Mas aquilo não era apenas um exercício criativo. Vítor desenhava em homenagem. Um amigo seu perdera um tio na guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Outro colega perdera um irNinguém deveria ter de crescer a perder pessoas para uma guerra. Mas ali estavam eles, crianças de 10 anos, já a sentir na pele os ecos de um conflito que, para muitos, parecia distante.
Talvez Vítor tenha ouvido algo no noticiário. Talvez tenha visto uma imagem que lhe marcou. Ou, quem sabe, tenha simplesmente sentido o peso das guerras invisíveis que nos rodeiam. Porque, mesmo em tempos de “paz”, há batalhas que nunca cessam.
A guerra continua quando um menino da sua idade acorda em um campo de refugiados sem saber onde está sua casa. Continua quando um pai regressa, mas nunca volta a ser o mesmo. Continua nas ruas devastadas, nos corpos que não puderam ser enterrados, nas lágrimas que já secaram, mas deixaram cicatrizes.
Mesmo quando os governantes assinam tratados e apertam mãos em grandes salões, há batalhas que persistem. As explosões silenciosas da fome, do trauma, da falta de esperança. Talvez seja por isso que Vítor escreveu “no futuro, ainda virá mais”.
O que significa dizer que uma guerra acabou? É o fim do barulho ou o fim do sofrimento? É baixar as armas ou reconstruir os corações?
A homenagem de Vítor mostra algo que os adultos muitas vezes esquecem: a guerra não termina para quem perdeu alguém. Ele não desenhou apenas para expressar uma ideia. Ele desenhou para lembrar. Para manter viva a memória de quem partiu cedo demais.
E se os adultos tivessem metade da clareza que uma criança de 10 anos tem ao olhar para o mundo?
Talvez, um dia, ao invés de ensinarmos as crianças a lidar com as consequências das guerras, aprendamos com elas como evitar que elas aconteçam.
Um especial agradecimento ao Vítor pela oportunidade deste artigo com base no seu trabalho.