O Canadá, historicamente reconhecido como um parceiro estratégico dos Estados Unidos, está a enfrentar uma fase de grandes desafios diplomáticos e comerciais devido às políticas implementadas pelo antigo presidente norte-americano Donald Trump.

Estas medidas protecionistas, especialmente as tarifas elevadas sobre produtos como aço e alumínio, agravaram significativamente as relações bilaterais, levando o Canadá a explorar alternativas geopolíticas surpreendentes, nomeadamente uma possível adesão à União Europeia (UE).

Em 2025, as tensões entre os dois países atingiram um novo patamar quando Trump anunciou planos para impor tarifas de até 50% sobre metais canadenses, reagindo à decisão do Ontário de taxar em 25% as exportações de eletricidade para os EUA. A resposta do Canadá, liderado pelo novo primeiro-ministro Mark Carney, foi categórica: enquanto as tarifas não forem retiradas definitivamente, a província não irá recuar.

Este impasse impulsionou a ideia audaciosa do Canadá considerar uma possível integração na UE. Um inquérito da Abacus Data revelou que 46% dos canadianos apoiam esta ideia, comparativamente a 29% que a rejeitam. Apesar do forte apoio popular, a possibilidade de adesão levanta várias questões legais, económicas e políticas.

Será realmente viável a adesão canadiana à União Europeia?

O Tratado da União Europeia (artigo 49.º) afirma claramente que apenas Estados europeus podem candidatar-se à adesão. O porta-voz da Comissão Europeia já reforçou que, embora seja lisonjeador que o Canadá considere o bloco europeu uma opção atraente, existem barreiras jurídicas, especialmente porque o Canadá não está geograficamente na Europa, nem pertence ao Conselho da Europa, órgão essencial para definir a identidade europeia.

Contudo, casos como o de Chipre, localizado geograficamente na Ásia Ocidental, mas culturalmente europeu, abriram precedentes complexos. Porém, especialistas como Peter Van Elsuwege, professor de Direito Europeu na Universidade de Gent, alertam que cada caso é único e que o Canadá não possui uma ligação histórica ou geográfica suficientemente próxima para satisfazer integralmente os critérios europeus de adesão.

Vantagens e desafios de uma adesão canadiana à UE

Uma eventual adesão implicaria mudanças profundas no Canadá, incluindo a substituição do dólar canadiano pelo euro, a adopção integral da legislação europeia (Aquis communautaire), normas ambientais rigorosas e a política agrícola comum, o que poderia provocar resistências internas consideráveis.

Por outro lado, o Canadá beneficiaria de acesso total ao mercado europeu, menos barreiras comerciais comparativamente ao atual acordo USMCA com os EUA, e participaria diretamente na política europeia, elegendo representantes para o Parlamento Europeu e tendo voz nas decisões estratégicas do continente.

Alternativas para uma aproximação sem adesão total

O Canadá poderia seguir modelos como o da Noruega, Suíça ou Reino Unido, que mantêm relações estreitas com a UE sem adesão plena. Estes cenários permitem acesso significativo ao mercado europeu e participação em programas-chave, embora limitando influência política direta e implicando custos financeiros relevantes.

Conclusão: Uma estratégia diplomática inteligente ou uma nova realidade geopolítica?

Ainda que a adesão plena do Canadá à União Europeia enfrente obstáculos significativos, a simples consideração desta hipótese envia uma mensagem poderosa aos EUA e à comunidade internacional. Este cenário destaca que o Canadá está disposto a afirmar a sua soberania e diversificar as suas relações estratégicas, preparando-se para desafios futuros e assegurando maior autonomia económica e política.

O futuro dependerá da evolução diplomática e comercial, mas, independentemente do resultado, uma coisa é certa: as relações entre Canadá e Estados Unidos nunca mais serão as mesmas.

Fontes:

  • European Commission - Article 49 Treaty on EU

  • Abacus Data Poll on Canadian EU Membership

  • Reuters - Tariffs US-Canada Relations

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Foto de destaque: Criada por IA