Um estudo recente coordenado por Lara Guedes de Pinho, professora do Departamento de Enfermagem da Universidade de Évora e investigadora do Comprehensive Health Research Centre (CHRC), revelou uma realidade alarmante sobre a saúde mental dos estudantes universitários em Portugal.

A investigação, realizada entre 2022 e 2023, abrangeu 2.136 alunos de seis universidades portuguesas e destacou uma prevalência preocupante de sintomas depressivos e ansiosos. Quase 23% dos estudantes afirmaram estar diagnosticados com uma doença mental, com 49,7% a referirem que o diagnóstico ocorreu após a pandemia de COVID-19.

A Gravidade da Situação

Os dados apresentados no estudo indicam que a ansiedade é o problema mais comum, afetando 19,4% dos estudantes, seguida pela depressão, que atinge 13,3%. De forma ainda mais preocupante, 38,9% dos inquiridos relataram sintomas depressivos que variam entre moderados e severos, sendo que 7,2% revelaram sintomas graves. Para além disso, 11,8% dos alunos confessaram já ter tido pensamentos sobre morte ou autoagressão.

A investigadora Lara Guedes de Pinho reforçou que, apesar de as universidades estarem a adotar medidas para apoiar a saúde mental dos estudantes, como o reforço do apoio psicológico e a promoção de atividades focadas no bem-estar, tais esforços são insuficientes. "Muitos dos problemas de saúde mental surgem antes da entrada para a universidade, o que exige uma intervenção precoce no ensino básico e secundário, bem como uma estratégia sólida nos cuidados de saúde primários", afirmou.

Impacto no Desempenho Académico e na Vida Pessoal

O impacto destas dificuldades emocionais não se limita ao bem-estar psicológico dos estudantes, mas afeta diretamente o seu desempenho académico e a vida pessoal. De acordo com o estudo, 31,5% dos estudantes relataram que os seus problemas de saúde mental têm causado dificuldades significativas nas suas vidas, tanto no âmbito académico como nas suas relações pessoais.

Os sintomas de ansiedade, classificados entre moderados e graves, afetam 39,2% dos estudantes. O estudo ainda revela que as alunas e os estudantes com menor rendimento socioeconómico, sobretudo os que vivem longe das suas famílias, são os grupos mais vulneráveis. Estes dados expõem uma "espada de Dâmocles" que pesa sobre as suas vidas, exacerbada pelas dificuldades financeiras das suas famílias.

Barreiras no Acesso a Cuidados Psicológicos

Entre os fatores que dificultam o acesso ao apoio psicológico, destacam-se os custos elevados (62,6%) e o longo tempo de espera para conseguir uma consulta (54,7%). Estes obstáculos refletem uma carência de políticas de saúde mental acessíveis e eficazes, não só no meio académico, mas também no Serviço Nacional de Saúde.

A relutância em procurar ajuda nas universidades também é um dado revelador: apenas 26,4% dos estudantes recorreriam ao aconselhamento psicológico disponibilizado pelas suas instituições. Em contraste, 75,4% afirmaram que, se precisassem de ajuda, conversariam com amigos. Este dado reforça a necessidade de capacitar os pares para a primeira resposta em casos de crise emocional.

A Urgência de Ações Concretas

Diante deste cenário, a investigadora sublinha a importância de uma intervenção urgente, tanto nas universidades como ao nível nacional. O Programa de Saúde Mental da Universidade de Évora, Vagar (Mente), surge como uma resposta a este desafio, monitorizando anualmente a saúde mental dos estudantes e implementando programas de apoio, incluindo a capacitação dos pares.

Este estudo é um alerta claro para as autoridades e instituições de ensino superior. O aumento da gravidade dos sintomas depressivos e ansiosos entre os estudantes é uma consequência direta da pandemia, mas também de falhas estruturais no sistema de saúde mental. As barreiras económicas, os tempos de espera e a insuficiência de recursos de apoio psicológico exigem respostas imediatas e eficazes.

A crise na saúde mental dos estudantes universitários é uma realidade que não pode ser ignorada. Cabe às universidades, ao governo e à sociedade como um todo agir de forma coordenada para garantir que os jovens tenham o apoio necessário para enfrentar este desafio e construir um futuro mais equilibrado e saudável.