Os dados apresentados no estudo indicam que a ansiedade é o problema mais comum, afetando 19,4% dos estudantes, seguida pela depressão, que atinge 13,3%. De forma ainda mais preocupante, 38,9% dos inquiridos relataram sintomas depressivos que variam entre moderados e severos, sendo que 7,2% revelaram sintomas graves. Para além disso, 11,8% dos alunos confessaram já ter tido pensamentos sobre morte ou autoagressão.
A investigadora Lara Guedes de Pinho reforçou que, apesar de as universidades estarem a adotar medidas para apoiar a saúde mental dos estudantes, como o reforço do apoio psicológico e a promoção de atividades focadas no bem-estar, tais esforços são insuficientes. "Muitos dos problemas de saúde mental surgem antes da entrada para a universidade, o que exige uma intervenção precoce no ensino básico e secundário, bem como uma estratégia sólida nos cuidados de saúde primários", afirmou.
O impacto destas dificuldades emocionais não se limita ao bem-estar psicológico dos estudantes, mas afeta diretamente o seu desempenho académico e a vida pessoal. De acordo com o estudo, 31,5% dos estudantes relataram que os seus problemas de saúde mental têm causado dificuldades significativas nas suas vidas, tanto no âmbito académico como nas suas relações pessoais.
Os sintomas de ansiedade, classificados entre moderados e graves, afetam 39,2% dos estudantes. O estudo ainda revela que as alunas e os estudantes com menor rendimento socioeconómico, sobretudo os que vivem longe das suas famílias, são os grupos mais vulneráveis. Estes dados expõem uma "espada de Dâmocles" que pesa sobre as suas vidas, exacerbada pelas dificuldades financeiras das suas famílias.
Entre os fatores que dificultam o acesso ao apoio psicológico, destacam-se os custos elevados (62,6%) e o longo tempo de espera para conseguir uma consulta (54,7%). Estes obstáculos refletem uma carência de políticas de saúde mental acessíveis e eficazes, não só no meio académico, mas também no Serviço Nacional de Saúde.
A relutância em procurar ajuda nas universidades também é um dado revelador: apenas 26,4% dos estudantes recorreriam ao aconselhamento psicológico disponibilizado pelas suas instituições. Em contraste, 75,4% afirmaram que, se precisassem de ajuda, conversariam com amigos. Este dado reforça a necessidade de capacitar os pares para a primeira resposta em casos de crise emocional.
Diante deste cenário, a investigadora sublinha a importância de uma intervenção urgente, tanto nas universidades como ao nível nacional. O Programa de Saúde Mental da Universidade de Évora, Vagar (Mente), surge como uma resposta a este desafio, monitorizando anualmente a saúde mental dos estudantes e implementando programas de apoio, incluindo a capacitação dos pares.
Este estudo é um alerta claro para as autoridades e instituições de ensino superior. O aumento da gravidade dos sintomas depressivos e ansiosos entre os estudantes é uma consequência direta da pandemia, mas também de falhas estruturais no sistema de saúde mental. As barreiras económicas, os tempos de espera e a insuficiência de recursos de apoio psicológico exigem respostas imediatas e eficazes.