Na manifestação pública em defesa do histórico grupo de teatro A Barraca, realizada recentemente, o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, fez uma intervenção clara e firme contra o ódio, o terrorismo ideológico e a degradação do debate público.

As suas palavras ecoaram entre artistas, cidadãos e ativistas que se reuniram para repudiar a violência de cariz político e prestar solidariedade a uma instituição cultural que é, há décadas, símbolo de resistência, liberdade e pensamento crítico.

“O ódio é punível. E quem sai em liberdade horas depois de o praticar, mostra bem como anda a Justiça: dominada por uma casta elitista e, ainda, com muitos fascistas de permeio. E com polícias tolerantes a mais com movimentos como o Zero”, denunciou uma das vozes do protesto, apontando a complacência institucional perante atos de extrema-direita.

Um ataque à cultura e à democracia

O episódio que motivou a manifestação envolveu uma ação violenta dirigida a A Barraca, um dos mais antigos grupos de teatro de intervenção em Portugal, fundado logo após o 25 de Abril, e com sede no Largo de Santos, em Lisboa.
A agressão foi perpetrada por indivíduos ligados a grupos radicais com inspiração fascista.A resposta popular não se fez esperar. A Barraca não é apenas uma companhia teatral — é um bastião de liberdade cultural e política, berço de peças que desmontam o colonialismo, o machismo, a corrupção e o autoritarismo.

É, também, herdeira do espírito de Hélder Costa, dramaturgo, encenador e ex-combatente antifascista que marcou a cena artística portuguesa com uma linguagem direta, pedagógica e corajosa.

A herança de Hélder CostaFundador d’A Barraca e resistente à guerra colonial, Hélder Costa utilizou o palco como arma de combate político, como espaço de catarse social e de emancipação cívica. Ele soube usar a arte como ferramenta de denúncia e como instrumento de transformação.

“Teatro não é para adormecer consciências, mas para as acordar”, disse certa vez. A sua obra continua a ser referência para novas gerações que acreditam na cultura como elemento essencial da democracia participativa.A justiça que falha e o silêncio que pesaA manifestação serviu também para denunciar a dualidade com que os órgãos de justiça tratam os diferentes campos políticos.

Como recordado pelos manifestantes, “os únicos terroristas presos continuam a ser apenas os das esquerdas”. Num país onde o extremismo de direita tem vindo a ganhar palco — tanto nos parlamentos como nas ruas —, cresce a inquietação com o desinteresse (ou conivência) do sistema judicial e policial.“É urgente exigir que os crimes de ódio sejam levados a sério. Que se quebre o silêncio institucional quando a democracia está sob ataque.

E que se reconheça que o fascismo não se combate com equidistância, mas com coragem moral e política”, afirmou um dos participantes da manifestação.A Barraca continua de péApesar das agressões físicas e simbólicas, A Barraca continua viva. O seu palco é o espelho de um país plural, feito de memórias da resistência e de esperanças na transformação.

Num tempo em que se banaliza o discurso de ódio, as instituições culturais não podem ser deixadas sozinhas.Paulo Raimundo, com a sua presença no protesto, representou mais do que um partido político. Representou um compromisso com a Liberdade de Expressão, com o direito ao dissenso e com a dignidade da Cultura enquanto pilar da cidadania.

Apoiar A Barraca é defender a democracia, a memória antifascista e o futuro de uma cultura que não se rende ao medo.

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