Na quinta-feira, 05 de dezembro, Ventura afirmou desconhecer quaisquer comportamentos intimidatórios por parte dos deputados do seu partido e desvalorizou as denúncias, declarando que a Assembleia tem "mais do que fazer" do que "debater queixinhas". No entanto, as queixas levantadas tanto pelo PSD quanto pelo PAN vão além de "queixinhas"; tratam-se de preocupações graves sobre a integridade do processo democrático.
De acordo com a denúncia do PSD, deputados têm sido alvo de comportamentos intimidatórios, incluindo filmagens e fotografias não autorizadas durante sessões plenárias. Adicionalmente, a porta-voz do PAN trouxe à tona o comportamento alegadamente inadequado de convidados do Chega no hemiciclo. Essas acusações colocam em evidência não apenas a fragilidade do respeito entre os representantes eleitos, mas também o impacto que tais atitudes podem ter no espaço democrático.
A desvalorização das denúncias por Ventura levanta uma questão central: como garantir que o parlamento, o coração da democracia portuguesa, se mantenha um espaço de debate respeitoso e produtivo? Como bem disse Aristóteles, "A política deve ser a arte de fazer o bem em comum." Contudo, quando o confronto de ideias é substituído pela intimidação, essa arte dá lugar a um espetáculo lamentável, prejudicando a confiança do público nas instituições.
Num tom mais polémico, Ventura e membros do seu partido têm sido associados a discursos e posições controversas, incluindo o apoio a atos historicamente marcados pela violência e opressão, como os de Jaime Neves, figura associada à repressão nos tempos da descolonização. Essa admiração pública por posturas autoritárias não apenas enfraquece o debate político, mas também fere o espírito democrático de inclusão e respeito que deve prevalecer.
O medo ao debate político parece ser um dos traços mais evidentes nas estratégias de Ventura e do Chega. Ao reduzir as denúncias de intimidação a "queixinhas", o partido desvia o foco da verdadeira questão: estão dispostos a respeitar as regras democráticas ou preferem subvertê-las? Como salientou Voltaire, "Eu posso não concordar com o que dizes, mas defenderei até à morte o teu direito de o dizer." Este princípio deveria ser inquestionável na Assembleia, mas comportamentos intimidatórios sugerem o contrário.
Portugal é uma democracia jovem, construída sobre os escombros de uma ditadura que durou quase meio século. O debate político robusto e respeitoso é essencial para preservar as conquistas democráticas alcançadas desde 1974. Assim, comportamentos que ameacem essa integridade não podem ser encarados com leviandade.
Os episódios recentes são um lembrete do trabalho contínuo necessário para reforçar a ética parlamentar e garantir que o parlamento seja um local onde se promove a verdade, não o espetáculo. A questão que se coloca é: estamos a construir uma democracia sólida ou a permitir que a "bagunça" prevaleça? Afinal, como alertou Winston Churchill, "A democracia é a pior forma de governo, à exceção de todas as outras."
Chegou a hora de os representantes eleitos colocarem o bem comum acima das suas disputas pessoais e partidárias. A política não pode ser uma arena de intimidação; deve ser um espaço de ideias, de soluções e de progresso.