Nao por acaso Lisboa, Porto e Setúbal são os distritos onde há mais despejos… sob protesto de Fernando Pessoa, de Camilo Castelo Branco e Bocage!
Protesto porque as cidades sao uma mestiçagem entre ambiente natural urbano e as Pessoas nelas viventes!
Por Muito que uns Poucos que se acham Muitos achem Contrario!
Fernando Pessoa e Lisboa
Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflecte!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.
( Fernando Pessoa)
Camilo Castelo Branco e o Porto
Em 1846, Camilo apaixona-se por uma rapariga de Vila Real, foge com ela para o Porto e é mandado prender pelo tio dela.Em 1848, fixou-se no Porto, iniciando uma vida de boémia e causando alguns escândalos de natureza amorosa. Faz ainda parte do grupo «Leões» do Café Guichard, o qual já não existe, apenas sobrevivendo a esquina (da Praça Nova, actualmente chamada da Liberdade). "A maledicência do Café Guichard era a vingadora das vítimas do 'Palheiro' em particular e da botica em geral. Nós profligávamos a corrupção dos velhos, a putrilagem purulenta que infeccionava, com a língua, toda a florescência das almas novas", descreveu, em "Serões de S. Miguel de Ceide". O Águia D'Ouro era também um café habitual. Em 1850, matriculou-se no Seminário do Porto. Em 1868, Camilo voltou a esta cidade e dirigiu a Gazeta Literária. Camilo foi sepultado no cemitério da Lapa, no túmulo de Freitas Fortuna (1840-1899), a seu desejo, como revelou numa missiva enviada em 1888 ao seu amigo Freitas: "Revalido, por esta carta, o que lhe propus com referência ao meu cadáver e ao seu jazigo no cemitério da Lapa. “Desejo ser ali sepultado e que nenhuma força por consideração o demova de me conservar as cinzas perpetuamente na sua capela".
Até hoje se encontram neste local os seus restos mortais, assim como, na Ordem da Lapa, manuscritos da correspondência entre Camilo, Ana Plácido e Freitas Fortuna e numerosos objectos camilianos, como o revólver com que se suicidou, uma caixa de prata para rapé, com a última anotação que utilizou, a luneta, a pena e a lapiseira-pena que lhe serviram nos últimos tempos, um livro de Droz que Camilo começou a traduzir na Relação, um búzio que serviu a Camilo de pisa-papéis e o seu tinteiro predilecto.
Bocage e Setubal
Eu Me Ausento de Ti, Meu Pátrio Sado
Eu me ausento de ti, meu pátrio Sado,
Mansa corrente deleitos, amena,
Em cuja praia o nome de Filena
Mil vezes tenho escrito, e mil beijado:
Nunca mais me verás entre o meu gado
Soprando a namorada e branda avena,
A cujo som descias mais serena,
Mais vagarosa para o mar salgado:
Devo enfim manejar por lei da sorte
Cajados não, mortíferos alfanges
Nos campos do colérico Mavorte;
E talvez entre impávidas falanges
Testemunhas farei da minha morte
Remotas margens, que humedece o Ganjes.
Bocage, in ‘Rimas’
---
Foto de destaque: Criada por IA