Abril no Futebol?

Com a vitória de André Villas Boas nas eleições para a presidência do Futebol Clube do Porto, completa-se a mudança no topo dos principais clubes portugueses de futebol profissional. Uma nova geração emerge, sucedendo a um rol de dirigentes desportivos cujo protagonismo foi muitas vezes obtido pelas piores razões. 

No entanto, a passagem do testemunho no FCP, assim como a sua história recente, pouco tem a ver com os seus rivais de Lisboa.

A escassos minutos das 23h, Vítor Baía, mítico guarda-redes dos Dragões, membro da estrutura do FCP e apoiante de Jorge Nuno Pinto da Costa, avançou para a tribuna com um semblante visivelmente carregado. Atrás dele, o cenário instalado para o efeito caía ruidosamente. Assim se anunciou a derrota do presidente mais titulado de sempre.
Poucos minutos depois, Pinto da Costa abandonava o Estádio do Dragão orgulhoso dos seus inquestionáveis sucessos, mas vítima de uma derrota que não quis evitar. 

As irregularidades ocorridas na assembleia geral do ano passado, a detenção do líder da principal claque, a inconsistência na performance e resultados da equipe de futebol e a falta de transparência e rigor nos negócios desportivos, foram decisivos para que os sócios do clube materializassem a mudança, comparecendo em grande número nas mesas de voto e elegendo André Villas Boas por larga maioria.

Ao longo de um reinado de 42 anos Pinto da Costa transformou um clube de província num dos grandes do futebol europeu. Desenvolveu e potenciou outras modalidades no clube, que no andebol, basquetebol e hóquei, entre outras, disputam lugares cimeiros a nível nacional e europeu. A claque dos Super Dragões, criada na sua presidência, rapidamente se constituiu como a mais activa forma de apoio à equipe e ao seu presidente, pintando de azul a bancada norte do estádio e entoando cânticos vibrantes, acompanhando a equipe em todas as suas deslocações. Acompanharam Pinto da Costa nos seus momentos problemáticos com a Justiça, e o seu líder, Fernando Madureira, foi convocado pela Federação Portuguesa de Futebol para organizar o apoio à equipe das quinas em competições internacionais. 

O trabalho associativo desenvolvido nas estruturas do futebol do norte e a influência exercida em vários níveis, alavancaram os sucessos desportivos conseguidos com bons treinadores, boas contratações e boas estruturas de formação. O Porto de Pinto da Costa, rivalizou e ultrapassou vários clubes europeus com orçamentos significativamente maiores.
No entanto, na última década começou a instalar-se um ceticismo crescente em relação a várias contratações de jogadores, aos benefícios concedidos a comissionistas, agentes e intermediários. A cúpula dirigente do FCP continuou a usufruir de avultadas remunerações que contrastavam com as limitações financeiras impostas pela UEFA.

Os sócios do FCP votaram maciçamente no futuro do clube, na transparência e rigor da gestão financeira e desportiva. Votaram na alteração de relacionamento com as claques, e a sua dignificação. Os sócios do FCP ao votarem Villas Boas, escolheram quem lhes trouxe os últimos títulos europeus, porque querem voltar às vitórias, porque têm DNA ganhador.