Um Abril com gravatas a mais…mas mais Povo nas ruas! 

Espera-se muito mais de um Liberal sr Rui Rocha, do que debater um tema onde esteve envolvido e por isso a merecer mais reflexão que o bacoco discurso salazarento à volta dos “interesses do pais “, em resposta a um tambem absurdo bate papo de comentarista!

Na verdade só uma mentalidade colonialista escravocrata infantiliza os povos africanos como tanto se tem feito tempos e mundo fora !

Mas também é certo que Portugal, como os árabes, o império africano de Benim, como os britânicos, franceses, holandeses, estadunidenses e brasileiros, os turcos, os iranianos, os aztecas, o reino do Congo, o sobado Ngola etc, foram impérios esclavagistas.

Como é certo que o vaticano ora considerava os negros sem alma, como com alma!

O presidente da IL veio dizer que: "Nao somos menos livres porque temos uma longa História de quase 900 anos. E não Senhor Presidente, Historia nao é divida. E Historia nao obriga a penitencia."… bem a penitencia também não mas a verdade é que o retrocesso dos africanos se deve à destruição das estruturas sociais africanas sobretudo depois da Conferência de Berlim, onde a partilha de Africa teve um opositor radical, a representação estadunidense e uma encenação mercantilista portuguesa salva in extremis pelos “interesses britânicos” da ganância como se sabe do rei belga em especial!

A História colonial portuguesa tem momentos do pior e outros bem exemplares e basta recordar que o rei do Congo pediu ao reino português o apoio essencial para derrotar a invasão jaga ou a maravilhosa historia do encontro da rainha NGinga com um governador português e que para se mostrar ao nível desse português governador se ter sentado em cima de uma escrava que foi deixada porque disse esta personalidade uma rainha não se senta nunca duas vezes na mesma cadeira!

Os portugueses, sim eles sr Rui Rocha, foram parte do processo de desertificação de Africa com a escravatura mas ao mesmo tempo construíram uma elite, muito escura na pele releve-se mas que as leis coloniais salazarentas bloquearam e que deram origem ao vivido no tempo atrasado da Descolonização que se deveria ter iniciado na década de 20 do século XX e não nos 40 anos seguintes entre guerras coloniais e ate civis !

E falamos nos anos 20, porque Portugal esteve na linha da frente do pan-africanismo, pois, entre os 7 Congressos ou eventos, já que por Lisboa esteve para acontecer o III Congresso que, se não aconteceu, esteve em Lisboa o lider do Pan africanismo, o progressista Du Bois que foi atentamente ouvido no colóquio que substituiu o Congresso pelo ministro do Trabalho de então!

E com a Comunidade negra, mestiça e branca africana a votarem e a eleger deputados para a Assembleia Nacional apesar de divididos em dois partidos um garveyista e outro Du Boiista!

E deixamos nota dos presentes em foto no evento acima,


III Congresso Pan-Africano em Lisboa (Maio de 1923) Sentados: Luiz Alberto de Pinho, Manuel Herminio Paquete, Burghart Du Bois, José de Magalhães, Pascoal Pires dos Santos, Lourenço Pires Amado. De pé: Manuel Maria Ribeiro, Angelino Costa, Sebastião N. d'Alva Teixeira, Augusto de Magalhães, Tomé Agostinho das Neves, Manuel Afonso de Barros e Pascoal Betencourt.


Claro que a cultura e a História oficial / dominante neste cinzento e de fatos escuros das elites do país, como recordou Simone Beauvoir numa visita ao ainda fascista país, esconde ainda esta parcela da História, como esconde que uma parte importante dos anarquistas portugueses defendiam as independências/separação das colónias nesses anos finais do século XIX e nos 26 anos da I República!

Norton de Matos faz parte da História portuguesa, como Eugenio Ferreira, como o capitão Henrique Galvão, ou o general Humberto Delgado, escrevendo assim dispersamente, para lembrar que houve muito mais que as “guerras de Africa” e as leis coloniais e ate que os “anos de ouro” que acompanharam os 13 anos de guerra colonial e que não tiveram continuidade por uma razão simples,

O fascismo isolou-se mesmo com a guerra colonial e a atitude do papa Paulo VI em 1970 ao receber os movimentos de libertação das ex colónias portuguesas deu o claro sinal de que colonialismo e fascismo estavam em tempo de fim de festa!

Sobretudo se nos lembrarmos que Portugal era oficialmente um Estado Teocratico vaticanista ( que com esta malfadada concordata ainda o é parcelarmente ) pelo que ser deixado só no mundo foi bem doloroso para o fascismo!

Pode ser poético dizer Rui Rocha que “ Há 50 anos, uma gaivota levantou voo. Essa gaivota voava e nós, como ela, ficámos também livres de voar", mas não, não foi bem assim e relato a minha humilde experiência,

Não houve um interruptor desligado que, assim, sem mais, ligado trouxe a Democracia, nada disso!

Estava a dormir a 16 de março, a primeira noite dormida fora da prisão política de Caxias com 11 mesitos lá passados quando às 06h dessa madrugada recebo um telefonema de um camarada que saíra como eu de Caxias e que me dizia eh pá sai de casa pois estão a passar por aqui uns militares bem armados e claro saí de casa pois foge-se melhor se na rua !

Era o 16 de março de 1974 o falhado golpe spinolista ..

Por abril de 74 uma amiga bem informada, com ótimas ligações ao PCP e ao MES disse-me que era provável que no 1.o de Maio houvesse um golpe militar contra o regime e claro não acreditei apesar de me ter lembrado de um dos gurus da nossa geração, Jose Manuel Felix Ribeiro, que em 72 previu tal e obviamente Alvaro Cunhal que também entendia que seria com os militares que o regime cairia!

Estava a dormir a 25 de abril de 1974 e de novo o mesmo camarada me telefonou à mesma hora a dizer outra vez sai de casa e claro saí!

Passei pela casa de um amigo e de lá saí para ver o que acontecia nas ruas e confesso gostando pouco para não dizer nada de militares fui olhando para aquele militar movimento e para o farniente do regime e sinceramente fiquei num wait and see bem preocupado quando vi na televisão aquela coleção de jarras mal encaradas ao wait and see acrescentei uma dose de forte preocupação!

Mas houve o 1.o de maio e depois o crescimento das lutas sociais, a derrota do spinolismo no 28 de setembro, o 11 de março de 1975, ( e olhei para as nacionalizações como uma estrita forma de uma parcela da burguesia procurar salvar-se colando-se ao Estado), as proibições do PCPml e do MRPP nas Constituintes e a crescente agitação com uma vanguarda em processo de isolamento e uma imensa massa popular felizmente bem segura por Mario Soares e o PS, a par de minorias fascizantes com os MDLP e os ELP liderados por um cónego Melo e um arcebispo que abençoaram assassinos, assaltantes e contrabandistas!

O 25 de novembro, ja o escrevi n vezes, é liderado pelos grupo dos 9 que nada têm a ver com a direita e tinha à frente um autogestionario, Melo Antunes, e foi mais um golpe militar com 3 mortes, militares, dois de um lado e um do outro ( com a lusa direita a saudar 2 e a ignorar o que era do lado derrotado!)

Na sua nada santa ignorância o luso angolano presidente da IL veio dizer que vai apresentar uma deliberação para que o programa das comemorações do parlamento no 25 de Abril inclua uma cerimónia solene do cinquentenário do 25 de Novembro.

Já perguntei porque não o 28 de setembro, o 11 de março, as eleições para a Constituinte, a data do primeiro voo de retornados, imposto por um consenso EUA/URSS, e por isso se Rui Rocha vem dizer que "o general Ramalho Eanes sublinha o valor do 25 de Novembro e diz que é um erro separá-lo do 25 de Abril", vem procurar fazer esquecer que houve bem que Ramalho Eanes e eu fui eanista ativo nas duas eleições presidenciais que ele ganhou

Seguindo Paulo Núncio, do CDS, este líder da Iniciativa Liberal decide atacar Marcelo Rebelo de Sousa, “Quem declara ser nossa obrigação indemnizar terceiros pelo nosso passado, atenta contra os interesses do país, reduz-se à função de porta-voz de sectarismos importados e afasta-se do compromisso de representar a esmagadora maioria dos portugueses.", e diz mais, “Não somos menos livres porque temos uma longa História de quase 900 anos. E não, Senhor Presidente, História não é dívida. E História não obriga a penitência", para continuar, “Aos que à esquerda querem ser donos do 25 de Abril, aos que à direita se envergonham do 25 de Abril e aos outros, saudosos do ranço, da miséria e da opressão, aqui solenemente digo: saiam da frente, que atrás vem gente. Aos que têm agora o poder, digo também: façam, façam voar as gaivotas mais alto e mais depressa. E se não tiverem ambição para fazer nunca se esqueçam que, nas palavras de Torga, em Liberdade os cidadãos são sempre donos do terrível poder de recusar".

Ora pois bem regressemos ao essencial!

O essencial é finalmente começar a debater a História de um pequeno reino teocratico, templário e não vaticanista, se transforma num império transcontinental e marítimo que descai por se entregar ao poder castelhano e quase morre com o terramoto de Lisboa e se destrói com as invasões francesas e as ocupações inglesas vivendo num constante desespero pela sobrevivência dai em diante até hoje!

Depois o problema é que Portugal é um pais mestiço mais ate que o Brasil e com um povo que nunca tocou nos resultados da escravatura, nem no ouro do Brasil e ate no petróleo de Angola!

O drama é que alguma elite beneficiou muito em especial a vaticanista !

E assim ha que endossar o caso ao Vaticano lembrando os santos de pau oco onde iam escondidos os ouros roubados aos brasileiros e aos portugueses para o Vaticano enquanto que os petroleos iam para os EUA e ah é verdade os diamantes iam para os belgas!

Portugal sobretudo desde as invasões francesas e ocupações britânicas é um colonialista colonizado!

Joffre Justino

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Foto de destaque: IA;  imagem conceitual para ilustrar o artigo, representando uma cena vibrante nas ruas de Lisboa que simboliza o passado e o presente de Portugal, com um foco especial no seu legado colonial e nos desafios da democracia contemporânea.