Assim, este património cultural e um dos poucos exemplos da visão monumental do fascismo luso parco em tal nasceu para ser um espaço “à europeia” dos espetáculos em Lisboa, situado na Praça Duque de Saldanha, desapareceu entre 1983 e 1984.

Obra típica do luso fascismo era uma construção representativa de uma época, histórica e arquitectónica, mas tinha também uma funcionalidade incomparável e se foi pelo fascismo construído foi pela direita conservadora destruído!

A destruição terá começado em de Novembro de 1983, e este Cineteatro Monumental tinha sido inaugurado 32 anos antes, a 11 de Novembro de 1951 concebido pelo Arquiteto Raul Rodrigues Lima na linha da estética modernista do Estado Novo.

As salas de cinema e a do teatro albergavam mais de 1000 espectadores e estava decorado com imponentes lustres, vetustos cortinados de veludo e sumptuosos lambris (painéis de madeira) e uxuosos móveis e maples ornamentavam os diversos salões que acompanhavam as salas de espetáculo!

O Monumental foi anos fora gerido pelo empresário dos espetáculos Vasco Morgado onde Laura Alves, sua esposa marcou uma linha teatral com êxitos como As três Valsas, a sua primeira peça neste teatro até Pai precisa-se (a sua última peça, em 1982), passando pelo grande êxito A Flor do Cato (1967).

O Monumental exibiu tambem
os maiores êxitos cinematográficos da época como E tudo o Vento Levou, Os Dez Mandamentos, Ben-Hur, Spartacus, West Side Story, Lawrence de Arábia, Cleopatra, 2001: Odisseia no Espaço, Um Violino no Telhado, e Star Wars.

Foi pioneiro nas novas tecnologias pois em 26 de Junho de 1953 apresentou, pela primeira vez aos portugueses, um filme em três dimensões: O homem sem cérebro (The dark man) e foi a primeira sala de espetáculos a ter um ecrã gigante, o Todd-AO.

Destruido o “charme fascista” nasceu a visao caixote sendo hoje um mamarracho inqualificável!

Pois bem o Ministério da Cultura decidiu este ano 2024 não autorizar a desafetação do cinema Monumental, em Lisboa, para outras atividades sem ser a exibição cinematográfica, num despacho divulgado pela Lusa.

O ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, indeferiu o pedido da imobiliária Merlin Properties para que o cinema Monumental possa ser transformado para acolher outro tipo de atividade, e recomendou que "a decisão de desafetação seja objeto de ponderação especialmente cuidada".

A justificar a decisão, Pedro Adão e Silva considera que "as salas de cinema são um bem escasso, que elas cumprem uma importante função cultural na vida pública e que não foram esgotadas as possibilidades de reativação do Cinema Monumental", apesar das quatro salas do cinema Monumental, que deixaram de exibir em 2019, estão no edifício, hoje propriedade da empresa imobiliária Merlin Properties (MP Monumental), que foi alvo de reformulação e que acolhe atualmente o banco BPI.

Em julho de 2023, a MP Monumental fez um pedido ao Ministério da Cultura para desafetar os espaços das quatro salas de cinema para outra atividade.

No despacho assinado agora pelo ministro lê-se que a MP Monumental queria adaptar as salas de cinema para acolher o projeto TUMO, um centro de tecnologias criativas da Associação Topsail, em regime de comodato até junho de 2031.

Inicialmente quatro empresas de exibição manifestaram-se interessadas em reabilitar e manter as salas de cinema, mas no decorrer das negociações ficaram apenas duas propostas, da Cinebox e da Cinetoscópio.

No entanto, a Merlin Properties disse "ter esgotado definitivamente as negociações com potenciais interessados", por considerar que "o risco, o perfil das empresas candidatas à exploração do espaço e o montante a investir" não justificava o investimento.

Os proprietários justificavam ainda que a exibição de cinema tem atualmente "a concorrência cada vez mais feroz das plataformas de 'streaming'" e tinham dúvidas sobre "o conceito inovador" de uma das empresas propostas, a Cinetoscópio.

O Ministério da Cultura manifestou "reservas" perante os argumentos da MP Monumental e reiterou que "não fica demonstrado que se tenham esgotado as possibilidades de o espaço ser utilizado para o fim para o qual está licenciado", que é a exibição de cinema, pelo que indeferiu o pedido da imobiliária.

Atualmente, em Lisboa só existem três salas de exibição regular fora dos centros comerciais: o Cinema Ideal, no Chiado, reaberto pela Midas Filmes em 2014, o Cinema Nimas, explorado por Paulo Branco, e o City Alvalade, explorado pela exibidora Cinema City.

No verão de 2023, quando foi noticiado o pedido de desafetação do cinema Monumental, várias associações, produtoras e exibidoras de cinema assinaram um texto comum, publicamente, que apelava à manutenção da exibição naquelas salas.

Os signatários, entre os quais a Associação de Produtores Cinema e Audiovisual, a Associação Portuguesa de Realizadores, os festivais DocLisboa, IndieLisboa e Curtas de Vila do Conde, as produtoras Midas Filmes, O Som e a Fúria e Alambique, e a exibidora Cinemas Castello Lopes lembravam que "o país, e Lisboa em particular, tem uma gritante falta de cinemas, e sobretudo de cinemas que não sejam apenas lojas anónimas de centro comercial".

Joffre Justino