Alguém inventou uma lenda segundo a qual uma dita eva comeu uma maçã ( a ver com a sabedoria) e levou um dito adão a pecar comendo da mesma maçã…

Esta lenda leva-me a acreditar que é o ato de comer e não a questão da sabedoria que nos conduziu à proibição do sexo à sua castração emocional mais até que física!

Isto é, o que está em jogo é a questão do Poder no seio da relação que nos leva a uma mesma Biblia com duas bem diversas visoes sobre a origem da Humanidade,

Eis a visão natural e de igualdade feita,
E Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem, à nossa semelhança, para que ele tenha domínio sobre os peixes do mar e sobre as aves do céu, sobre o gado, sobre todos os animais selvagens e sobre todos os répteis que se arrastam sobre a terra”. Deus criou o homem à sua própria imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. Deus os abençoou e lhes disse: “Sede fecundos e multiplicai-vos e enchei a terra; sujeitai-a e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves do céu e sobre todo ser vivente que se arrasta sobre a terra” (Gênesis 1:26-28).

Eis a visão patriarcal hoje ainda dominante,
“Então o homem impôs nomes a todo o gado, a todas as aves do céu e a todos os animais selvagens, mas o homem não encontrou ajuda que lhe fosse semelhante. Então o Senhor Deus fez descer um estupor sobre o homem, que adormeceu; removeu uma de suas costelas e trancou a carne em seu lugar. O Senhor Deus moldou uma mulher a partir da costela que ele havia tirado do homem e a trouxe para o homem”. (Gênesis 2:20-22)

Na realidade esta Bíblia que conhecemos, esconde um drama que é o como Adao e Eva deram continuidade à Humanidade pois surgem nela relatados somente três personagens do sexo masculino pelo que houve a necessidade de acrescentar lenda à lenda!

E temos pois esse acrescento,
“Uma vez expulsos do Éden, Adão e Eva tiveram vários filhos, de acordo com a tradição de 14 a 140. Os únicos três mencionados na Bíblia, no entanto, são Caim, Abel e Seth.  Caim casou com a irmã gémea de Abel, Calmana, Abel casou com a irmã gémea de Caim, Deborah. Mais tarde, após a morte de Abel, Caim, o seu assassino, casou com a sua irmã Awan, com quem foi pai de um filho, Enoque. Seth casou com sua irmã Azura, que deu à luz a Enos, de cuja descendência nasceriam Noé e seus filhos. Os descendentes de Caim, por outro lado, tornaram-se criadores de gado nômades e aprenderam a arte da forja do metal, mas se distinguiram pela violência e pela prática da poligamia”. (https://www.holyart.pt/blog/religiao/a-historia-de-adao-e-eva/ )

Na primeira versão, Deus é sexualmente libertador e igualitário, enquanto que na segunda adeus sexo e reprodução e viva o poder do macho sobre a fêmea!

Desta segunda visao e entre fanatismos à cátaro e à cisteriano vem a versão terrível da pecaminizaçao do sexo que leva ate a visões suicidarias ainda hoje dominantes entre os vaticanistas que proíbem os seus representantes de praticarem o sexo e de procurar assumir que a suprema espiritualidade está na abstenção sexual !

Curiosamente tal leva-nos a considerar que neste contexto reprodutor, para esta espécie de visão anti sexista Deus errou deixando nas nossas mão o pecado da atividade sexual ( a nova proibida maçã…!) pelo que na realidade Deus nao é nem infinitamente bom nem infinitamente perfeito já que para haver reprodução pelo menos o homem é forçado a ter um orgasmo e a ejacular na mulher, que essa sim nem importa se tem ou não um orgasmo, sendo somente o vaso recetor de onde virá a continuidade, a vida!

Que reviravoltas foram os patriarcalistas forçados a dar para conseguir impor alem de fisicamente também ideologicamente, o Poder masculino!

Retomemos agora também neste texto um pouco “da ciência” sobre esse ato tão simples e transformado em tão complexo!
“ A ação dos esteroides sexuais perdura até o período pós-natal imediato (1 - 3 meses) quando ocorre o aumento nos níveis da testosterona no sexo masculino. Na menina, durante o primeiro ano de vida, os níveis da testosterona permanecem os mesmos, enquanto nos meninos a testosterona aumenta e reduz rapidamente, mantendo-se em níveis pré-puberais. Não se sabe ao certo as implicações desse fenômeno na definição da identidade de género

Parece que a concentração de testosterona no sangue e líquido amniótico de mães com crianças masculinas normais tem correlação com a identidade de gênero da criança. Em experimentos animais, a exposição de ratas grávidas à testosterona resulta em alteração de importantes aspectos do comportamento sexual e social da prole desses animais que passam a apresentar, na vida adulta: comportamento mais agressivo, redução da expressão do comportamento feminino (lordose) nas fêmeas com maior tendência ao comportamento masculino para a cópula (monta), além de retardo na puberdade. Isso aponta para possível alteração dos conceptos de mulheres grávidas expostas a testosterona, as quais podem oferecer um ambiente intrauterino com níveis elevados desse hormônio, podendo potencialmente afetar os padrões de comportamento sexual de seus filhos na idade adulta.

A influência hormonal na diferenciação e expressão sexual é importante, mas o processo de socialização do individuo é reconhecidamente fundamental para a construção da sua sexualidade e terá implicações na expressão sexual. Nos primeiros anos de vida a construção da sexualidade está vinculada à influência dos pais, cuidadores, professores, colegas de grupo, os quais instigam a criança a assumir o papel e induzem-na às preferências relacionadas a seu gênero. A criança começa a entender que é homem ou mulher e esse conhecimento motiva-a a imitar o seu sexo. Os pais são cruciais para o encorajamento da expressão típica do modo masculino ou feminino de ser. Entretanto, nas meninas sujeitas a ambiente intrauterino hiperandrogênico, o esforço dos pais em fazer com que elas tenham comportamento feminino, principalmente na escolha dos brinquedos é falha, o que indica ser o imprinting hormonal um determinante do gênero. Entretanto, em meninas com identificação de género assegurada é importante o reforço dos pais ou cuidadores para a socialização da criança dentro do seu gênero, para que ela assuma o papel típico do seu gênero. “( In A diferenciação do cérebro masculino e feminino Lucia Alves da Silva Lara )

Na verdade esta visão simplista escamoteia os graus de influência biológica bem variáveis de pessoa para pessoa como escamoteia também os papéis na aprendizagem sexual da/o
outra/o na nossa vivência das brincadeiras com a/o nossa/o orgão sexual e a/o da/o outra/o usualmente bem distante dos pais, aprendizagem que pode conduzir à diferenciação de papeis se as brincadeiras se desenvolvem entre parceiros do mesmo género, confundindo portanto os géneros!

Em um tempo de libertação sexual crescente, nascem também varias vias de evolução e de retrocesso, basicamente ideológicas e não biológicas!

Antes do mais a busca da manutenção do status quo tradicionalista predominantemente dominante no seio dos patriarcados fanaticamente anti sexistas ( os vaticanistas e os islamistas ) visíveis nesse livreco que tudo faz para manter a mulher enquanto escrava do poder masculino tão esmoler que vai ao ponto de defender ( imagine-se oh anti estatistas!) um subsidio para manter a mulher “no esconso do lar”!

De seguida, a busca da manutenção deste status quo de dominância do homem mas amaneirado com a mulher a conviver entre o prazer do sexo e a aceitação da predominância no sexo do prazer do homem e daí a a negação dos controlos da reprodução vistos como dolorosos e ou doentios!

A seguir a problemática da sexualidade pós Maio 68 que progressivamente veio trazer à luz do dia as múltiplas sexualidades hoje denominadas LGBTQIA

Neste contexto o problema passa a situar-se na sua aceitação social e na sua banalização, e nos entraves impostos pela ainda dominância patriarcal

Ninguém é só homem nem só mulher, ninguém é só peniano ou vaginiano, e a libertação da educação sexual permitirá resolver os fanatismos, hoje dominantes nas varias visões da sexualidade, com tempo, generalização é banalização!

Por isso hoje o tempo é de dura critica à brutalização na sexualidade, de poder e ou de submissão e sobretudo de aceitação da banalidade da mesma sexualidade na sua diversidade!

Hoje o tempo deveria ser de enorme rigor justicialista sobre os atos de violência como os vividos no Vimioso ou sobre a trans no Porto ou os vividos clandestinamente no seio da famila ( tradicional ou nao )

Hoje o tempo tem de ser de rejeição das visões patriarcais sejam elas vativanistas, os islamista, ou evangelistas!

Enfim, e finalmente regressemos a este versiculo,

“Deus criou o homem à sua própria imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. Deus os abençoou e lhes disse: “Sede fecundos e multiplicai-vos e enchei a terra..”, mas na cautela de saber cuidar da relação Pessoa/Natureza!

E daí dizer também que as e os jovens da Climáximo, ( todas e todos eles ! ), têm mais razão no protesto que os automobilistas todos juntos, que as edp’s todas !

Joffre Justino

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Foto de destaque:IA;  imagem simbólica  de uma árvore estilizada no centro, representando a "árvore do conhecimento" bíblica, com maçãs marcadas com símbolos de gênero. Ao redor da árvore, figuras humanas de diferentes gêneros e idades estão envolvidas em discussões ou reflexões, simbolizando o debate sobre sexualidade e educação. O fundo inclui elementos de texto e livros antigos e modernos, refletindo a evolução das ideias sobre o tema.