As minhas prisões não viraram museu…

Tive uma primeira “prisão” de umas horas numa qualquer das esquadras do Porto, uma segunda de um fim de semana na prisão política de Caxias, depois de umas horitas primeiro na esquadra que ficava abaixo do antigo ISCEF/ISE/ISEG, depois na Antonio Maria Cardoso e finalmente Caxias, uma terceira prisao de 11 meses em Caxias, tudo antes do 25.04.74, saindo de Caxias a 15.03.74, uma quarta prisão de uma semana, numa esquadra de Catete em Luanda, em 1992 e uma quinta “prisão” no espaço Schengen todo, proibido de trabalhar, de ser remunerado, de ter conta bancaria, de ser apoiado fosse por quem fosse, por dois anos, isto é pronto para morrer!

E em nenhuma destas prisões nascerá um museu, que saúde a Liberdade, a Democracia, a luta contra as ditaduras!

Congratulo-me, claro, pelo nascimento do Museu da Resistência, de Peniche, e saúdo todos os meus camaradas, de todos os partidos, e sem partido, que por lá passaram, como me curvo perante os que sofreram o Tarrafal, ou Sao Nicolau em Angola e sobretudo as largas centenas de mortos pela repressão nas lutas pela Libertação Nacional das antigas colónias portuguesas!

Durante anos nem me preocupei em imaginar uma indemnização pelas prisões sofridas, até que descobri que os antigos combatentes da guerra colonial auferiam de uma larga série de benefícios …

E perguntei-me porque raio eu, que combati contra a guerra colonial, como contra o fascismo não era um antigo combatente?

Por não ter vestido farda?

Por não ter pegado em armas?

Na verdade não fiz parte das FFAA portuguesas, alias nem nunca faria porque o meu combate era outro, o da luta contra a guerra colonial, o da luta pela Independência das colombianas, o da luta contra o regime fascista!

Mas sim fiz e fui ativamente um combatente e um combatente organizado partidária, politicamente, em quase todos os momentos das minhas prisões à exceção da primeira e assim distribuído,
1.a prisão - 1970, sem partido mas dirigente da associação de estudantes da Faculdade de Economia do Porto
2.a prisão - 1972, militante do comité revolucionário marxista leninista e do seu braço anticolonial os comités guerra popular
3.a prisão - 1973, idem acima
4.a prisão - jornalista do Terra Angolana, semanário da UNITA
5.a prisão - agregado à Comissão Política da UNITA

Sou um cidadão que se orgulha do seu passado e que por isso não pede, nunca pedirei, ( e bom jeito se calhar daria ), que “contem” o “tempo de serviço” da minha atividade - ou o Estado a reconhece e me indemniza ou lá pedir … não!

Mas exigir que, de uma vez por todas, o Estado democrático reconheça que a prisão de Caxias é um espaço a ser reconhecido e saudado porque por lá passaram uns bons milhares de antifascistas e anti colonialistas, isso exijo!

Ja bastou ver a Antonio Maria Cardoso, a sede da pide, a ser branqueada, transformada em condominio de luxo!

Joffre Justino

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Foto de destaque: IA; imagem ilustrativa retratando uma cela de prisão vazia e mal iluminada, simbolizando isolamento e a luta pela liberdade, com uma fotografia desbotada de ativistas políticos dos anos 1970. Esta cena visa capturar a esperança e resiliência em meio às adversidades enfrentadas por aqueles que lutaram pela democracia e independência.