Colonialismo : Quem deve o quê a quem?

Os cheganos zangaram-se muito com Marcelo Rebelo de Sousa por este ter decidido avançar com a tese da indemnização às ex-colónias das consequências do luso colonialismo, aliás não só eles e por isso vale a pena continuar o interessante texto de Morgado Jr aqui no Estrategizando “Reparações Coloniais: A Busca por Justiça e Cura num Mundo Moldado pelo Passado”

Algumas estimativas apontam para que Africa tenha perdido 100 milhões de cidadãs e cidadãos no dramático processo da comercialização da Pessoa e sem ter em conta a escravocracia árabe que antecedeu o negocio de escravos português, das espanhas, inglês, francês, holandês, etc, mundo fora!

Esta realidade é, gostem ou não cheganos fascistas, iliberais pouco liberais, e democrata cristãos em nada cristãos, um horror que pesa sobre as civilizações antigas, indígenas centro e sul americanas, asiáticas, mas muito, mesmo muito, do medio oriente, do mediterrâneo, da península ibérica, e das colonizações britano-estadunidenses e das Holandas e Bélgicas!

Africa paga sozinha esta factura mais que todos os continentes e sim nao basta para tamanho drama um pedido de desculpas!

No entanto este drama nao pode ser visto espaço a espaço envolvido pelo que competirá ( e acontecerá!) tarde ou cedo num processo que so pode ser orientado pelas Nações Unidas ou instituições equivalentes agora que voltamos a ver o mundo dividido por zonas de influência!

Mas, para além da escravatura há o delapidar de recursos naturais desde o ouro, aos diamantes, ao petróleo, como à destruição das florestas naturais, à imposição de produção de bens estranhos às regiões,etc e muito, de novo, sofrido em Africa, mas também no Continente Americano todo ele!

O Ser Humano transformou-se no maior delapidador das riquezas naturais, de todo o tipo, dos infindaveis tempos das primeiras civilizações até hoje e é fundamental que essa realidade seja hoje posta a nu, uma vez por todas!

Agora vamos tratar do como pagar essa divida!

O certo, antes do mais, e no que concerne à escravatura. é que essa exploração desenfreada não pode ser estritamente imputada aos escravocratas dos navios negreiros, devendo também ser imputada aos escravocratas locais!

O que diga-se não desculpa em nada a escravatura e os seus intervenientes, todos eles vivendo totalmente contra os princípios cristãos e ate contra as regras de uma economia de mercado livre de peias bloqueadoras de livres produtores distribuidores e consumidores e muito mais uma economia solidária

O maior problema vivido face à escravatura, é que a perda da Liberdade, no seu todo, não tem preço o que torna a solução bem difícil de concretizar.

Não o tendo, tal não significa que não haja o dever de encontrar soluções mesmo num pais pobre como Portugal é!

Os restantes países escravocratas modernos sao países muito ricos ou medio ricos, isto é, acumularam em si a riqueza nascida da escravatura, o que não acontece com a sociedade portuguesa

Muitas sao as razões que justificam tal, como a tomada do reino pelos Filipes, ou o Terramoto de Lisboa, ou as invasões francesas e ocupação inglesa e obviamente as tentativas de ocupação territorial colonial o que não era tradição portuguesa.

Inclusivamente a espoliação do ouro do Brasil não foi estritamente portuguesa ja que o Vaticano sempre cavalgou a expansão portuguesa e ficou com uma parcela dessa espoliação ate ilegalmente como o mostra a história dos santos de pau oco onde fugia escondido ouro do Brasil !

Enfim, desde o século XVII que Portugal conviveu com o estatuto de colonizador colonizado com momentos de puro roubo do que tinha roubado nas colónias e a tal há que assumir que as lusas elites, centradas no comércio e não na produção e numa apropriação especulativa e de gestão ultra minoritária não geraram riqueza interna!

O único período em que houve preocupação em gerar riqueza foi precisamente na fase terminal do colonialismo em tempo curiosamente de guerra colonial acirrada, ( em especial na Guiné Bissau e em Moçambique) e o gerado nesse período, é sabido, ficou, no essencial nas colónias em causa, Angola e Moçambique!

O que significa que sendo justa a ideia de pagar o colonialismo o garantido é que Portugal não terá como pagar!

A não ser que use ele também o estatuto de colonizado e se vire para os colonizadores e requeira o que espoliaram em Portugal!

É pois uma circunstância complexa a portuguesa e a potenciar uma reflexão que garantidamente não passa pelas balofas palavras, quer as salazarentas, que cheiram ainda a guerra colonial quer as importadas pouco a ver com a vivência imperial e colonial lusa
Joffre Justino

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