O Relatório do Índice de Desperdício Alimentar de 2021 marcou um momento crucial na compreensão do desperdício alimentar global nos setores do retalho, dos serviços alimentares e das famílias.
O Índice aponta que o custo da perda e do desperdício de alimentos na economia global é estimado em cerca de US$ 1 trilhão e gera de 8% a 10% das emissões globais de gases de efeito estufa.
Enquanto 783 milhões de pessoas foram afetadas pela fome e um terço da humanidade enfrentou insegurança alimentar, em todos os continentes há familias que desperdiçaram mais de 1 bilhão de refeições por dia em 2022.
As informações são do Relatório do Índice de Desperdício de Alimentos 2024, publicado nesta quarta-feira pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Pnuma.
O documento alerta que o desperdício de alimentos continua a prejudicar a economia global e a fomentar a mudança climática, a perda da natureza e a poluição.
O relatório foi divulgado nas vésperas do Dia Internacional do Resíduo Zero, assinalado no dia 30 de março.
O estudo apresenta a estimativa global mais precisa sobre o desperdício de alimentos no varejo e no nível do consumidor.
Traz também orientações aos países sobre o aprimoramento da coleta de dados e sugere as melhores práticas para passar da mensuração à redução do desperdício alimentar.
Em 2022, foram gerados 1,05 bilhão de toneladas de resíduos alimentares, que inclui partes não comestíveis, totalizando 132 quilos per capita e quase um quinto de todos os alimentos disponíveis para os consumidores.
Do total de alimentos desperdiçados em 2022, 60% aconteceram no âmbito das famílias, com os serviços de alimentação a serem responsáveis por 28% e o retalho por 12%.
Apelo aos países
A diretora executiva do Pnuma, Inger Andersen, disse que o desperdício de alimentos é uma tragédia global e realçou que “milhões de pessoas passarão fome hoje, enquanto alimentos são desperdiçados em todo o mundo".
Segundo Andersen, além de ser uma questão importante de desenvolvimento, os impactos desse desperdício desnecessário estão causando custos substanciais para o clima e a natureza.
Ela disse que a boa notícia é que se os países priorizarem essa questão, poderão reverter significativamente a perda e o desperdício de alimentos, reduzir os impactos climáticos e as perdas econômicas e acelerar o progresso das metas globais.
De acordo com o Pnuma, desde 2021, houve um fortalecimento da infraestrutura de dados com um número maior de estudos rastreando o desperdício de alimentos.
Globalmente, o número de dados em nível domiciliar quase dobrou.
No entanto, muitos países de baixa e média renda continuam a carecer de sistemas adequados para acompanhar os avanços no cumprimento do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 12 de reduzir pela metade o desperdício de alimentos até 2030, particularmente no retalho e nos serviços de alimentação.
Apenas quatro países do G20 - Austrália, Japão, Reino Unido e EUA - e a União Europeia têm estimativas de desperdício alimentar adequadas para acompanhar os progressos até 2030.
O Canadá e a Arábia Saudita têm estimativas adequadas no nível das famílias , mas no Brasil estão so agora em andamento atividades para desenvolver uma linha de base robusta até o final de 2024.
Neste contexto, o relatório serve como um guia prático para os países medirem e comunicarem consistentemente o desperdício alimentar.
Os dados confirmam que o desperdício de alimentos não é apenas um problema de "país rico", com os níveis de desperdício de alimentos domésticos diferindo nos níveis médios observados para países de rendimento alto, médio-alto e médio -baixo em apenas 7 kg per capita.
Ao mesmo tempo, os países mais quentes parecem gerar mais desperdício de alimentos per capita nas familias , devido ao maior consumo de alimentos frescos com partes substanciais não comestíveis e à falta de cadeias de refrigeração robustas.
Desde 2009, existe um aumento das emissões de gases de efeito estufa, o que se tornou um desafio para pequenos e grandes agricultores
De acordo com levantamentos recentes, a perda e o desperdício de alimentos geraram de 8% a 10% das emissões globais de gases de efeito estufa, quase 5 vezes mais do que o setor de aviação, e uma perda significativa de biodiversidade ao ocupar o equivalente a quase um terço das terras agrícolas do mundo.
O custo da perda e do desperdício de alimentos na economia global é estimado em cerca de US$ 1 trilião .
A expectativa é que os esforços para fortalecer a redução do desperdício de alimentos e a circularidade beneficiem especialmente as áreas urbanas.
As áreas rurais geralmente têm menor desperdício, com maior direcionamento de restos de alimentos para animais de estimação, animais de criação e compostagem doméstica como explicações mais prováveis.
Em 2022, apenas 21 países incluíram a perda e/ou redução do desperdício de alimentos nos seus planos climáticos nacionais, NDCs.
O processo de revisão das NDCs de 2025 oferece uma oportunidade fundamental para aumentar a ambição climática, integrando a perda e o desperdício de alimentos.
O relatório destaca igualmente a urgência de abordar o desperdício alimentar, tanto a nível individual como sistémico.
Linhas de base robustas e medições regulares são necessárias para que os países mostrem mudanças ao longo do tempo.
Graças à implementação de políticas e parcerias, países como Japão e Reino Unido mostram que a mudança em escala é possível, com reduções de 31% e 18%, respectivamente.
O Pnuma continua a acompanhar o progresso a nível nacional para reduzir pela metade o desperdício de alimentos até 2030, com um foco crescente em soluções além da medição para a redução.
Joffre Justino
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Foto de destaque: IA, ilustração que representa o contraste entre o desperdício de alimentos e a fome global, visando realçar a urgência de abordar este problema à luz dos desafios de sustentabilidade e fome no mundo.