Recentemente, o episódio que envolveu a despedida de Ronna McDaniel da presidência do Comité Nacional Republicano, marcado pela nomeação acrítica de sucessores alinhados com Donald Trump, ilustra não apenas um capítulo, mas um padrão recorrente. O que antes eram procedimentos destinados a assegurar um processo democrático no seio do partido, agora cedem lugar à aclamação, sem espaço para dissensões ou debate.
Este fenómeno, contudo, não é exclusivo de uma figura ou de um partido. A história mostra-nos que a subjugação da maquinaria partidária à vontade de líderes populistas de extrema-direita é um modus operandi comum entre aqueles que almejam não apenas o controlo absoluto do partido, mas do próprio país.
Por mais que a apelação à democracia e ao pluralismo dentro dos partidos possa parecer idealista, é indiscutível que os debates internos são cruciais para o amadurecimento de ideias políticas e para o fortalecimento da legitimidade dos processos democráticos.
Ao respeitar a oposição legítima e promover um ambiente de discussão saudável, os políticos reafirmam o seu compromisso com as regras básicas do jogo democrático, reconhecendo a importância de perspectivas divergentes na construção de um futuro comum.
No entanto, a transformação do Partido Republicano numa espécie de culto à personalidade, com a marginalização e até ameaças àqueles que ousam criticar Trump, é um sinal alarmante. A ausência de um programa partidário coerente e a substituição da visão de longo prazo por lealdades pessoais transformam a política num jogo perigoso de tudo ou nada, onde cada derrota é vista como existencial.
Este não é um problema isolado. De dinastias políticas na Índia à liderança autocrática em países como Hungria e Polónia, a tendência de centralização do poder em torno de figuras carismáticas ameaça a própria essência da democracia.
E enquanto exemplos de autoritarismo partidário proliferam, torna-se evidente a necessidade de fortalecer regulamentações que assegurem a democracia interna dos partidos, evitando a sua degeneração em instrumentos autoritários.
A democracia, com as suas imperfeições e desafios, permanece o sistema mais capaz de reflectir a complexidade e a diversidade da condição humana. Protegê-la exige vigilância constante, diálogo aberto e um compromisso inabalável com os princípios democráticos.
Assim, a luta contra a zombificação dos partidos políticos não é apenas uma questão de política, mas de preservação da própria essência da democracia.
Morgado Jr.
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Foto de destaque: imagem que ilustra de forma dramática e impactante o conceito de "Democracia em Xeque", capturando a tensão, urgência e esperança de cidadãos unidos na defesa dos pilares da democracia.