Estamos quase em cima dos 50 anos do 25 de abril de 1974. Faltam umas poucas horas para a hora que levou às movimentações que cimentaram o golpe militar que derrubou o fascismo.

Há cinquenta anos, num dia marcado pela incerteza e pela esperança de um país, eu, Joffre Justino, então um jovem de 23 anos, encontrava-me numa encruzilhada de vida ou morte, de liberdade ou opressão.

Recém-libertado da cadeia de Caxias, onde estive preso como prisioneiro político, enfrentava um Portugal que borbulhava no prelúdio de uma revolução.

Na madrugada de 15 de março de 1974, um telefonema alarmante acordou-me: movimentações militares estavam a acontecer. Não se sabia ao certo se seriam forças pró-fascistas ou antifascistas. O conselho era claro e direto: deveria sair de casa para evitar ser novamente capturado ou pior. Aquele foi o início de um período de intensa busca por segurança e liberdade.

 

Nos dias que se seguiram, entre o medo e a cautela, procurei alianças e apoio para um possível exílio. O objetivo era claro: fugir de um regime opressor e continuar a minha luta pela democracia e liberdade, longe das sombras da ditadura que tanto oprimiram nossa nação. França ou Bélgica pareciam destinos prováveis onde eu poderia reiniciar minha vida e militância.

 

As semanas que antecederam o 25 de abril foram um misto de ansiedade e desesperança. Embora rumores de uma revolta militar circulassem, a minha fé nas estruturas militares estava abalada. Vivendo a guerra colonial em Angola, testemunhei o quão complexo e arraigado era o sistema que sustentava o regime fascista. Não acreditava que uma transição pacífica fosse possível sem um confronto direto, uma revolução que desmantelasse as bases do autoritarismo.

No entanto, contra todas as minhas expectativas, no dia 24 de abril, o Movimento das Forças Armadas agiu. O fascismo foi derrubado não com a guerra que eu temia, mas através de um levante militar que rapidamente se alastrou. Ainda assim, o meu sentimento era agridoce. Via uma nação descrente, cética quanto às promessas de uma transformação democrática verdadeira. As forças políticas com as quais eu havia lutado estavam fragmentadas e eu, sem grandes contatos restantes, sentia-me isolado na minha própria terra.

A revolução de Abril, embora vitoriosa em derrubar o regime, deixou muitos de nós desiludidos e cautelosos quanto ao futuro. Decidi, então, buscar no exílio a continuação da minha luta. A esperança de uma nova estrutura política que pudesse verdadeiramente representar e elevar as vozes do povo português.

 

Cinquenta anos se passaram já desde aquele momento decisivo. Hoje, como Diretor do Estrategizado e continuando minha jornada como empreendedor e ativista social e político, reflito sobre esses dias com uma mistura de melancolia e gratidão. A luta por liberdade e justiça é constante, e cada passo, cada escolha que fiz, foram essenciais para moldar o ativista que sou hoje. Naquele longínquo 25 de abril, um jovem preso político viu a alvorada de uma nova era para Portugal, uma era que ainda estamos a construir.

Cinquenta anos se passaram desde aquele momento decisivo. Hoje, como Diretor do Estrategizado e continuando minha jornada como empreendedor e ativista social e político, reflito sobre esses dias com uma mistura de melancolia e gratidão.

A luta por liberdade e justiça é constante, e cada passo, cada escolha que fiz, foram essenciais para moldar o ativista que sou hoje. Naquele longínquo 25 de abril, um jovem preso político viu a alvorada de uma nova era para Portugal, uma era que ainda estamos a construir.

Concluo com as palavras sábias de Nelson Mandela, que ecoam profundamente com a minha jornada e a história da nossa nação: "A verdadeira liberdade não consiste apenas em desembaraçar-se das próprias cadeias, mas em viver de uma forma que respeite e promova a liberdade dos outros."

Que este princípio guie nossa caminhada contínua rumo a uma sociedade mais justa e livre.

Joffre Justino