Como disse o célebre artista português Júlio Pomar: "A arte é um passo do que é óbvio e conhecido para o que é misterioso e oculto.

A 7ª edição da ARCOlisboa, uma das mais importantes feiras de arte contemporânea em Portugal, apresenta-se este ano com uma diversidade de 84 galerias oriundas de 15 países. Destaca-se a inclusão da secção "As Formas do Oceano", que promove um diálogo cultural e artístico entre artistas africanos, afro-diaspóricos e brasileiros. Este evento surge como uma plataforma para repensar as relações afro-atlânticas, numa tentativa de criar um ponto de partida para novas colaborações e compreensões culturais.

O Papel de Paula Nascimento na Curadoria

Paula Nascimento, arquiteta e curadora independente formada pela Architectural Association School of Architecture e LSB University, tem sido uma figura central nesta edição. Desde a criação da secção "África em Foco", em 2019, Paula tem trabalhado para desmistificar e integrar a arte africana no cenário europeu, reconhecendo o potencial não apenas no aspecto comercial, mas principalmente no diálogo cultural e na representatividade.

Desafios e Oportunidades para as Galerias Africanas

Tradicionalmente, as galerias africanas enfrentam desafios significativos para estabelecer diálogos no mercado europeu. A ARCOlisboa, ao acolher essas galerias, não só amplia o leque de representações artísticas, mas também desafia preconceitos e abre portas para novos artistas. Este ano, a curadora angolana destaca o papel de Igo Simões na curadoria de "As Formas do Oceano", uma tentativa de ampliar a compreensão do público europeu sobre as diversas expressões artísticas do continente africano.

Brasil e a Expansão para Novos Territórios

A ligação com o Brasil é outro ponto forte desta edição, evidenciando a importância das conexões culturais transatlânticas. A participação de artistas brasileiros, como Ligor Simões, não só enriquece o evento, mas também contribui para um diálogo mais inclusivo e diversificado. Este intercâmbio permite explorar novas fronteiras artísticas e criar pontes entre São Paulo e Lisboa, promovendo uma colaboração enriquecedora.

Feedback e Resultados

O feedback dos visitantes tem sido positivo, revelando uma aceitação e curiosidade crescente pelo programa. As visitas curatoriais e os diálogos entre artistas e público têm gerado resultados comerciais e de crítica, consolidando a importância da ARCOlisboa como uma plataforma vital para a arte contemporânea.

Reflexão sobre Reparações e Crescimento

Um tema subjacente nesta edição é a reflexão sobre as reparações históricas. Paula Nascimento salienta que, mais do que falar sobre o tema, é essencial agir e integrar as comunidades de forma orgânica. Este processo, ainda que gradual, é fundamental para o crescimento e desenvolvimento do mercado de arte, promovendo uma plataforma de troca justa e equitativa.

Conclusão

A ARCOlisboa 2024 não é apenas uma feira de arte, mas uma celebração da diversidade e um espaço para o diálogo intercultural. A inclusão de artistas africanos e brasileiros é um passo significativo para a criação de um mercado mais inclusivo e representativo. As iniciativas de curadoria e os esforços de Paula Nascimento são fundamentais para este avanço, destacando a necessidade de continuar a construir pontes culturais e promover um entendimento mais profundo e equitativo das diversas expressões artísticas. A ARCOlisboa, portanto, posiciona-se não apenas como um evento comercial, mas como um espaço de aprendizagem e transformação cultural.

Como disse a célebre artista e ativista africana Wangechi Mutu: "A arte tem o poder de transformar, iluminar, educar, inspirar e motivar". É exatamente este poder que a ARCOlisboa busca catalisar através das suas iniciativas, criando um futuro mais inclusivo e diversificado para a arte contemporânea.

Morgado Jr.

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Foto de destaque: IA;  imagem criada para ilustrar o artigo sobre a ARCOlisboa. Esta ilustração representa a vibrante cena de uma feira de arte em Lisboa, destacando a diversidade de obras contemporâneas de artistas africanos, afro-diaspóricos e brasileiros, refletindo o intercâmbio cultural e a colaboração entre diferentes regiões.