No atual panorama político e económico global, um dos pensadores que tem vindo a desafiar o status quo é Joseph Stiglitz, laureado com o Prémio Nobel da Economia.

A sua crítica assenta na necessidade urgente de reformar o capitalismo, argumentando que o modelo neoliberal predominante nas últimas décadas falhou em atender às necessidades dos cidadãos, alimentando a ascensão de fenómenos populistas como Donald Trump.

Segundo Stiglitz, as falhas do capitalismo moderno são evidentes: falta de resiliência, altos níveis de desigualdade e uma incapacidade para lidar com crises climáticas são apenas algumas das lacunas que o mercado, sozinho, não pode resolver. O economista defende uma redefinição radical do sistema, que não se limite a ajustes no mercado ou na regulação, mas que envolva uma transformação profunda da própria política e do seu papel na sociedade.

Durante uma entrevista recente com Paulo Ribeiro Pinto e Celso Filipe do jornal " Negócios" Stiglitz argumentou que "o capitalismo não é apenas uma reforma das regras do mercado e da regulação". Para ele, é crucial também reformular o que se entende por política num contexto de maior exigência por parte do eleitorado.
A sua visão inclui um Estado mais atuante, capaz de intervir eficazmente na economia para corrigir as falhas do mercado e assegurar uma distribuição mais equitativa da riqueza.

Stiglitz destaca que a principal razão para o surgimento do populismo é a percepção de que o Estado falhou em responder às exigências dos cidadãos. Este cenário gerou uma profunda desconfiança nas instituições e alimentou a narrativa de que apenas mudanças radicais poderiam restaurar o equilíbrio perdido.

No seu livro "Pessoas, Poder e Lucro", assim como na sua obra mais recente, "The Road to Freedom - Economics and the Good Society", Stiglitz explora estas ideias, propondo soluções que visam um equilíbrio mais harmonioso entre mercado e Estado. Ele acredita que apenas um novo modelo de capitalismo, que realinhe as prioridades económicas com as necessidades sociais, poderá garantir um futuro sustentável e justo para todos.

A reforma do capitalismo proposta por Stiglitz não é apenas uma questão económica, mas uma imperativa moral e ética. Stiglitz  chama ainda a atenção para a necessidade de um novo paradigma que valorize as pessoas tanto quanto os lucros, e que reconheça o papel central do Estado como garantidor do bem-estar coletivo.

A discussão que Stiglitz propõe é fundamental e urgente. Se continuarmos a seguir o modelo neoliberal, sem questionar suas falhas e sem buscar novas formas de organização económica e política, corremos o risco de agravar ainda mais as desigualdades e de comprometer a estabilidade social e ambiental do nosso planeta.

A voz de Stiglitz lembra-nos  de que é possível pensar o capitalismo de outra forma, mais justa e equilibrada, e que o futuro pode ser construído com base em princípios de equidade e cooperação, e não apenas de competição e lucro.

Morgado Jr.

---

Foto de destaque: IA;