Enquanto o Movimento Zero continua a ser protegido, Portugal encontra-se dividido em lados opostos. 

Numa das manifestações recentes, vimos milhares de portugueses a representar a diversidade e inclusão, enquanto, do outro lado, uma minoria de descendentes daqueles que, há décadas, sustentaram o regime fascista e suas leis do indigenato se faziam ouvir em número reduzido.

É inegável que a República já foi um palco de resistência para movimentos de libertação e independência africanos. Em Lisboa, realizaram-se congressos panafricanistas onde líderes como W.E.B. Du Bois, defensor da justiça social e igualdade, marcaram presença. Estes momentos simbolizavam uma abertura a um futuro progressista e multicultural. No entanto, o Movimento Zero inverte este ideal, propondo um “Portugal branco”, uma utopia vazia e insustentável, especialmente num país com uma história de mais de nove séculos de miscigenação e trocas culturais com povos do mundo inteiro.

Essa visão monocromática do Movimento Zero, além de inverosímil, é promovida com violência e gestão ineficaz, por responsáveis que não assumem a responsabilidade dos seus atos. Perguntemo-nos: imaginando, ainda que por absurdo, que uma ameaça física – uma faca – tivesse sido real, seria necessário responder com disparos letais? Será essa a única resposta possível? A agressividade dessa postura ignora alternativas pacíficas e diplomáticas e coloca em causa os valores da sociedade portuguesa.

A verdade é que, ao proteger estes elementos extremistas, a administração da PSP abandona o compromisso com a democracia e com os direitos civis. Protegem, na realidade, a incompetência e irresponsabilidade daqueles que sustentam as fantasias fascistas e ilegais do Movimento Zero.

Num encontro com jovens, diferentes visões de resistência vieram à tona. Uma das interlocutoras evocou Martin Luther King Jr., sublinhando a importância da luta não violenta e da transformação social pela paz. Outros, porém, posicionaram-se de forma mais incisiva, recordando Malcolm X e a sua defesa de uma postura mais agressiva.

O verdadeiro Portugal não é uma quimera “branca” e homogénea, mas sim um país moldado pela diversidade, pela riqueza das múltiplas etnias que o integram e pela longa história de inclusão. Esta é a encruzilhada que enfrentamos: proteger ideais anacrónicos e extremistas ou reafirmar o valor da multiculturalidade e dos direitos humanos, que fazem de Portugal uma nação verdadeiramente forte e rica.