Esta realidade é inquietante, conforme sublinha Ricardo Pocinho, especialista em Gerontologia Social, ao afirmar que "deveriam promover-se feiras de transição para a reforma, tal como existem feiras de empregabilidade para os jovens". Esta proposta surge como uma tentativa de transformar o envelhecimento numa fase mais ativa e digna da vida, quebrando o ciclo de isolamento e a falta de propósito que muitos sentem ao atingirem a idade da reforma.
Para Luísa Loura, investigadora da Pordata, a situação é preocupante também ao nível dos serviços de saúde: "As estatísticas da Pordata sobre o envelhecimento no Serviço Nacional de Saúde indicam que o sistema tem de garantir mais sete consultas por cada pessoa que entra nos 73 anos de idade, entre 2022 e 2032". Tal pressão coloca em causa a sustentabilidade do SNS, que enfrenta o risco de colapsar nas próximas décadas, caso não sejam implementadas reformas urgentes.
Quase 700 mil idosos vivem atualmente em lares, e cerca de 25% encontram-se em situação de isolamento, vivendo sozinhos. Este isolamento é agravado pela falta de atividade física regular, com apenas 22% dos idosos entre 65 e 74 anos a praticarem exercício físico, uma estatística que coloca Portugal entre os países menos ativos da União Europeia. Este sedentarismo reflete-se diretamente na saúde física e mental da população idosa, limitando a sua capacidade de independência e qualidade de vida.
Outro dado preocupante é a prevalência de pobreza entre os idosos portugueses. Cerca de 17% vivem com pensões muito baixas, o que está diretamente associado a carreiras contributivas curtas e ao desemprego. Estes números mostram uma realidade dura para muitos idosos, que enfrentam dificuldades para cobrir despesas básicas e se tornam dependentes de apoio social.
Apesar de todos estes desafios, há um consenso entre especialistas de que as políticas de envelhecimento ativo precisam de ser mais eficazes e abrangentes. Promover um envelhecimento digno e saudável exige, não apenas políticas públicas robustas, mas também uma mudança de mentalidade na sociedade, onde a terceira idade seja valorizada e respeitada. Como bem aponta Ricardo Pocinho, "o problema começa logo por nem sequer existir um estatuto jurídico do idoso", evidenciando a necessidade de um reconhecimento legal e social que defenda os direitos e a dignidade dos mais velhos.
Referências:
- "Portugal é o 4º país mais envelhecido e onde a terceira idade é das menos ativas na UE". _Diário de Notícias_, 28 de outubro de 2024.
- Entrevista com Ricardo Pocinho, especialista em Gerontologia Social.
- Dados estatísticos da Pordata sobre o envelhecimento em Portugal.