Com cerca de 2,5 milhões de portugueses inseridos na categoria de terceira idade, ou seja, com mais de 65 anos, Portugal enfrenta um dos maiores desafios demográficos da sua história recente: o envelhecimento da população.

Com o quarto índice de envelhecimento mais alto da Europa, o país ocupa a 18ª posição entre os países europeus no que se refere ao envelhecimento ativo, com apenas 33,5% dos idosos a poderem ser considerados ativos, um valor que fica aquém da média europeia e muito distante dos campeões suecos, que atingem 47,2%.

Esta realidade é inquietante, conforme sublinha Ricardo Pocinho, especialista em Gerontologia Social, ao afirmar que "deveriam promover-se feiras de transição para a reforma, tal como existem feiras de empregabilidade para os jovens". Esta proposta surge como uma tentativa de transformar o envelhecimento numa fase mais ativa e digna da vida, quebrando o ciclo de isolamento e a falta de propósito que muitos sentem ao atingirem a idade da reforma.

Para Luísa Loura, investigadora da Pordata, a situação é preocupante também ao nível dos serviços de saúde: "As estatísticas da Pordata sobre o envelhecimento no Serviço Nacional de Saúde indicam que o sistema tem de garantir mais sete consultas por cada pessoa que entra nos 73 anos de idade, entre 2022 e 2032". Tal pressão coloca em causa a sustentabilidade do SNS, que enfrenta o risco de colapsar nas próximas décadas, caso não sejam implementadas reformas urgentes.

Quase 700 mil idosos vivem atualmente em lares, e cerca de 25% encontram-se em situação de isolamento, vivendo sozinhos. Este isolamento é agravado pela falta de atividade física regular, com apenas 22% dos idosos entre 65 e 74 anos a praticarem exercício físico, uma estatística que coloca Portugal entre os países menos ativos da União Europeia. Este sedentarismo reflete-se diretamente na saúde física e mental da população idosa, limitando a sua capacidade de independência e qualidade de vida.

Outro dado preocupante é a prevalência de pobreza entre os idosos portugueses. Cerca de 17% vivem com pensões muito baixas, o que está diretamente associado a carreiras contributivas curtas e ao desemprego. Estes números mostram uma realidade dura para muitos idosos, que enfrentam dificuldades para cobrir despesas básicas e se tornam dependentes de apoio social.

Apesar de todos estes desafios, há um consenso entre especialistas de que as políticas de envelhecimento ativo precisam de ser mais eficazes e abrangentes. Promover um envelhecimento digno e saudável exige, não apenas políticas públicas robustas, mas também uma mudança de mentalidade na sociedade, onde a terceira idade seja valorizada e respeitada. Como bem aponta Ricardo Pocinho, "o problema começa logo por nem sequer existir um estatuto jurídico do idoso", evidenciando a necessidade de um reconhecimento legal e social que defenda os direitos e a dignidade dos mais velhos.

Referências:
- "Portugal é o 4º país mais envelhecido e onde a terceira idade é das menos ativas na UE". _Diário de Notícias_, 28 de outubro de 2024.
- Entrevista com Ricardo Pocinho, especialista em Gerontologia Social.
- Dados estatísticos da Pordata sobre o envelhecimento em Portugal.