Mas deixemo-nos de rodeios. Com o património vitivinícola a ser amplamente celebrado em regiões de todo o mundo, como o Douro ou Champagne, não estará na hora de reconhecer outros “patrimónios” igualmente enraizados na história humana? Por exemplo, a Cannabis – uma planta com origem há milhões de anos, possivelmente nas encostas do Planalto do Tibete – também tem uma rica história de utilização, seja medicinal ou recreativa, e isso bem antes de o Japão sequer sonhar em fermentações do saqué.
Este reconhecimento ao saqué é válido e justo. Afinal, o seu processo envolve técnicas seculares e profundas raízes culturais, essencial para festivais e cerimónias nipónicas. Mas e a liamba? Ao longo dos tempos, a Cannabis percorreu continentes e culturas, proporcionando um relaxamento honesto em muitos lares e sanzalas de África. Então, por que será que esta “ancestral herança botânica” não merece também algum mérito?
Assim, surge a questão: será que falta à Cannabis um lobby mais robusto e uma boa dose de prestígio financeiro? Ou será que as folhas veneráveis da nossa “velhíssima liamba” continuarão a ser vistas apenas como uma subcultura em vez de um património?
Deixemos a provocação no ar: talvez um dia, a UNESCO reveja o seu catálogo e nos surpreenda com uma nova definição de património...