O Partido Socialista (PS) parece disposto a seguir a linha de orientação traçada pelo seu secretário-geral, Pedro Nuno Santos, ao optar pela abstenção na votação do Orçamento do Estado para 2025 (OE25), tanto na generalidade como na especialidade.

Esta decisão, embora controversa, revela um elevado sentido de responsabilidade por parte de Pedro Nuno Santos, que evita o extremismo, preferindo a ponderação e o pragmatismo.

A sua escolha reflete uma liderança que privilegia a construção de consensos dentro do partido, resistindo à tentação de uma postura radical que, para alguns, seria a mais desejada.

Ao contrário de lideranças passadas mais polarizadas, Pedro Nuno Santos demonstra uma capacidade notável de unir as diferentes correntes internas do PS, criando uma linha de diálogo que reforça a sua posição e a do partido. Embora líder do PS há pouco tempo, tem mostrado uma crescente capacidade de gerar convergência, numa fase em que também necessita de consolidar o seu papel à frente do partido. Esta abstenção estratégica é, por isso, também uma jogada que lhe permite ganhar tempo e fortalecer a sua base de apoio.

Neste contexto, o PS encontra-se dividido entre várias sensibilidades internas. De um lado, estão os apoiantes de figuras históricas, como Vieira da Silva, que pressionam para um voto favorável ao orçamento. Do outro, temos os partidos à esquerda, como o Bloco de Esquerda (BE) e o Partido Comunista Português (PCP), que já anunciaram o seu voto contra. Pedro Nuno Santos, sensível às dinâmicas partidárias, posiciona-se com um “nim” – nem sim, nem não – apostando numa solução de compromisso.

O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) é, sem dúvida, um dos fatores que mais influenciam esta decisão. A estabilidade económica e a continuidade dos fundos europeus são essenciais para muitos autarcas socialistas, e Pedro Nuno Santos sabe que colocar o PRR em risco poderia desestabilizar o poder local, onde o PS tem uma forte presença. É esta visão responsável, tanto para com o país como para com o partido, que o leva a optar pela abstenção.

Ainda assim, esta decisão poderá ter repercussões significativas nas relações com os partidos que tradicionalmente têm servido de apoio parlamentar ao PS, nomeadamente o BE e o PCP. No entanto, é possível que os partidos menores, como o Livre e o PAN, continuem a manter uma posição de diálogo com o governo. Com este cenário, a oposição ao governo da Aliança Democrática (AD), composta pelo PSD e CDS, parece fragilizada, pelo menos até setembro de 2025.

Do nosso ponto de vista, estamos certos que o militante PSD e que ja foi dele presidente, hoje PR, não deixaria cair o governo e assim ao contrário do que fez na governação PS permitiria a apresentação de um segundo OE25 !

Pedro Nuno Santos, ao ouvir as preocupações dos autarcas do PS, preferiu não arriscar com um voto contra o OE25. Uma decisão previsível, mas estratégica, que equilibra as necessidades de curto prazo do partido com a sua visão de longo prazo. No entanto, o verdadeiro teste ao PS virá com as negociações na especialidade. Temas críticos como os cortes nos feriados, as alterações ao regime de faltas, e as restrições ao direito à greve na função pública são verdadeiras linhas vermelhas que terão de ser geridas com cautela. A capacidade de Pedro Nuno Santos em lidar com estas questões será uma prova da sua habilidade de liderança.

No pós-autárquicas de 2025, o país enfrentará novos desafios com o OE26. A probabilidade de novas crises políticas é elevada, mas Pedro Nuno Santos parece preparado para navegar essas águas, consolidando a sua liderança ao longo do processo.

Por fim, o PS terá de reconsiderar a sua relação com os media. A forma como o partido é percecionado pela opinião pública é crucial para o seu sucesso. Pedro Nuno Santos tem demonstrado que, além de uma liderança responsável e unificadora, compreende a importância de uma comunicação eficaz. Apoiar os media independentes pode ser uma via para melhorar a sua imagem e evitar futuros conflitos mediáticos que possam fragilizar o partido.

A abstenção no OE25 não é apenas uma questão técnica – é um sinal de que Pedro Nuno Santos está disposto a tomar decisões difíceis para preservar a estabilidade, tanto do país como do seu partido, ao mesmo tempo que se afirma como uma figura central no futuro político de Portugal.