O anúncio do fim da publicidade na RTP até 2027 tem gerado um furor político e social, que vai muito além das normais divergências partidárias.

Figuras proeminentes do Partido Social Democrata, incluindo ex-líderes como Rui Rio, Moraes Sarmento e Poiares Maduro, manifestaram publicamente a sua oposição à medida, condenando-a como uma decisão prejudicial à qualidade do serviço público de comunicação social e, mais grave ainda, potencialmente lesiva ao erário público.

A questão central que se coloca, no entanto, é muito mais profunda: por que carga d'água é que esta decisão está a ser tomada pelo governo, sabendo de antemão que quase todos os setores envolvidos estão contra?**

Esta não é uma questão de ideologia política. Não se trata de uma medida que divide, por exemplo, direita e esquerda, ou que advém de um conflito de visões sobre o papel do Estado. Pelo contrário, a oposição vem de todos os quadrantes, incluindo do próprio PSD, que tem sido tradicionalmente visto como defensor de políticas liberais de mercado. **Então, o que está em jogo?**

Beneficiários Ocultos?

Quando uma decisão política suscita tamanha controvérsia e é, ainda assim, teimosamente mantida, é inevitável questionar a quem é que esta medida realmente serve. Quem irá beneficiar com a retirada da publicidade na RTP? Certamente, não será a própria estação pública, que perderá 21 milhões de euros anuais de financiamento, colocando em risco a sua independência e a qualidade dos seus serviços.

Tirar a RTP do mercado publicitário pode criar um vazio que outros operadores privados estão ansiosos por preencher. Mas será esta a única motivação por detrás desta decisão? O corte de receitas obriga a uma maior dependência do financiamento estatal, algo que Rui Rio caracterizou como "governamentalização" da RTP, insinuando que a autonomia da televisão pública poderá ser sacrificada em prol de uma maior influência política.

Um Prejuízo para o País

A comunicação social livre e independente é o pilar fundamental de qualquer democracia. Como afirmou o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, "sem uma comunicação social forte, não há uma democracia forte". Neste contexto, cabe perguntar: será que o governo está a enfraquecer propositadamente a RTP? E se sim, porquê?

Ao eliminar uma fonte de financiamento vital, o governo corre o risco de deixar a estação pública vulnerável, seja a cortes de pessoal, à redução da sua capacidade de cobertura internacional e nacional ou, ainda, à tentação de interferência governamental direta. Quem vai perder? O público, que depende da RTP como uma fonte crucial de informação imparcial e pluralista. O próprio país, que arrisca ver comprometida a qualidade do serviço público de radiodifusão.

A Investigação Necessária

Perante todas estas interrogações, surge a questão mais inquietante de todas: será que esta decisão justifica uma investigação por parte do Ministério Público? Se a medida for considerada prejudicial ao interesse nacional, colocando em risco a sustentabilidade financeira de um serviço público essencial e criando uma oportunidade injusta para beneficiar interesses privados, poderemos estar perante uma situação que justifica um escrutínio legal.

Os cidadãos têm o direito de exigir transparência nas decisões que afetam diretamente os recursos públicos e os serviços que são prestados em seu nome. Será que estamos perante um erro de governação ou algo mais grave? A história recente tem mostrado que, muitas vezes, decisões que parecem irracionais à primeira vista acabam por servir interesses ocultos. Este é um caso onde o escrutínio público e jurídico deve ser considerado.

Um Apelo à Ação

Perante a gravidade das potenciais consequências desta medida, é essencial que os cidadãos se mobilizem e exijam respostas claras. É tempo de questionar o governo e de pedir, se necessário, uma investigação sobre quem realmente beneficia com o fim da publicidade na RTP. Se o impacto é nefasto para o país, como muitos acreditam, então é fundamental descobrir quem sairá beneficiado desta decisão.

A comunicação social não pode ser um peão nas jogadas políticas e económicas. Cabe à sociedade civil, com a sua voz ativa, garantir que decisões que afetam o bem público sejam tomadas com transparência e em benefício de todos.