No mundo da arte contemporânea, a expressão da contradição tornou-se um canal privilegiado para refletir sobre a complexidade da vida moderna.

É precisamente essa a proposta de MISFIT, a exposição de Henrique Biatto, um artista brasileiro que reside em Lisboa e que, sob a curadoria de Katherine Sirois, expõe a sua primeira grande individual no Centro Cultural de Cabo Verde (CCCV), em Lisboa.

O evento inaugura no dia 8 de novembro, às 18h, estendendo-se até 4 de janeiro de 2024.

A Trajetória de um Artista Multifacetado

Henrique Biatto destaca-se pela sua abordagem eclética e pouco convencional que funde elementos díspares para criar uma narrativa visual impactante. O próprio título da exposição, MISFIT, evoca o caráter de uma obra que desafia convenções, reunindo “géneros e registos opostos”. Inspirado pelo movimento Arte Povera, Biatto utiliza materiais brutos e contrastantes como metáfora da interação entre o luxo e a decadência, a natureza e a indústria, o sofisticado e o rudimentar.

Em entrevista, Biatto revelou que a sua obra nasce de uma "observação profunda dos contrastes do quotidiano, onde o banal e o extraordinário coabitam numa tensão constante". Neste contexto, o Centro Cultural de Cabo Verde, um espaço que promove a diversidade cultural e as artes em Portugal, torna-se o cenário ideal para acolher esta exposição, cujo carácter disruptivo procura incitar o público a uma nova leitura do mundo ao seu redor.

Curadoria de Katherine Sirois: Uma Perspectiva de Profundidade e Delicadeza

Katherine Sirois, a curadora desta exposição, é conhecida pela sua sensibilidade ao explorar o diálogo entre culturas, géneros artísticos e estilos. Ao assumir a curadoria de MISFIT, Sirois abraça o desafio de conduzir os visitantes por uma narrativa que foge ao convencional, onde cada peça exposta revela uma mensagem implícita e, por vezes, contraditória.

Sirois explica: “A obra de Biatto é simultaneamente densa e acessível, permitindo ao público encontrar na justaposição de materiais e temas uma ponte para a introspecção. Os visitantes são convidados a ‘ler’ cada peça como um fragmento de uma história maior, onde a elegância encontra o primitivo, o consumo se alia ao descartável, e o belo ao grotesco”.

Uma Iniciativa de Promoção da Arte Jovem

Organizada no contexto do concurso nacional Arte Jovem 2023, esta exposição não só consagra o talento de Henrique Biatto como simboliza um compromisso do CCCV com a promoção de jovens artistas emergentes. Este concurso, que fomenta a inovação e a diversidade no panorama artístico nacional, oferece um incentivo valioso para novos talentos, destacando o papel crucial da arte enquanto vetor de integração e de diálogo intercultural.

A iniciativa da Embaixada de Cabo Verde em Lisboa em apoiar eventos desta natureza demonstra um alinhamento claro com os valores de integração cultural e de promoção da diversidade, reconhecendo a importância de iniciativas que dão visibilidade a vozes e visões diferenciadas. O CCCV emerge, assim, como um palco de referência para a expressão artística contemporânea, fomentando um intercâmbio cultural entre Portugal e a diáspora cabo-verdiana, e, agora, com a presença de Biatto, incorporando também a visão de um artista brasileiro.

MISFIT: Uma Reflexão sobre a Arte e a Vida

Ao visitar MISFIT, o público é convidado a repensar a sua perceção do quotidiano e a encontrar beleza naquilo que, à primeira vista, pode parecer comum ou mesmo indesejado. A estética da exposição reflete uma crítica à sociedade de consumo e à obsessão com o perfeccionismo, lembrando que, nas palavras do filósofo Nietzsche, “aquilo que não nos mata, torna-nos mais fortes”. A capacidade de Biatto de transformar o banal em belo desafia os limites da arte contemporânea, propondo uma experiência imersiva que questiona o valor da beleza e da funcionalidade.


Informações do Evento:

  • Inauguração: 8 de Novembro, das 18h às 21h
  • Período da Exposição: 8 de Novembro de 2023 - 4 de Janeiro de 2024
  • Local: CCCV - Rua de São Bento, 640, Lisboa

Esta exposição é um convite não só à apreciação estética, mas também à introspeção sobre as vivências e os paradoxos que compõem a condição humana.