Organizado a cada dois anos pelo Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (ONU-Habitat), o fórum reúne líderes, urbanistas e especialistas de todo o mundo com o objetivo de debater como as cidades podem ser mais resilientes às alterações climáticas, garantir condições habitacionais dignas para todos, fortalecer comunidades e responder à rápida urbanização global.
Atualmente, cerca de metade da população mundial vive em áreas urbanas, um número que deverá chegar a 70% até 2050. Este crescimento acelerado levanta sérios desafios em torno da sustentabilidade urbana, do acesso à habitação e da adaptação ao clima. Na abertura do evento, Anacláudia Rossbach, diretora executiva da ONU-Habitat, destacou a urgência destas questões, frisando que “as pessoas e instituições estão preocupadas com o futuro do planeta e entendem o papel crítico que as cidades desempenham em defini-lo”. Segundo Rossbach, enfrentar a crise habitacional global e transformar assentamentos informais é fundamental para assegurar um futuro mais justo e inclusivo.
No segundo dia do evento, foi lançado o *Relatório Mundial das Cidades*, que apresenta uma análise profunda sobre os desafios das alterações climáticas e da urbanização descontrolada. O estudo estima que mais de 2 mil milhões de habitantes das cidades enfrentarão um aumento adicional de temperatura de pelo menos 0,5°C até 2040, agravando problemas de saúde pública e de qualidade de vida. Para se preparar para estas mudanças, os centros urbanos necessitam de um investimento anual entre 4,5 a 5,4 triliões de dólares para desenvolver e manter infraestruturas resilientes ao clima. No entanto, o financiamento atual está muito aquém, com apenas 831 mil milhões de dólares disponíveis.
Outro dado alarmante do relatório é o impacto negativo que algumas intervenções climáticas, como a chamada “gentrificação verde”, têm nas comunidades vulneráveis. Embora a criação de espaços verdes seja uma medida essencial para o combate às alterações climáticas, em alguns casos, esses projectos têm despojado famílias de baixa renda, aumentando os preços das propriedades. Estes efeitos secundários destacam a necessidade de políticas climáticas mais equitativas e inclusivas, que priorizem o bem-estar de todas as comunidades urbanas.
Este Fórum decorre num contexto global desafiador, com a recente aprovação do *Pacto para o Futuro*, um compromisso dos Estados-membros da ONU para reforçar a ação conjunta em áreas como alterações climáticas, habitação, conflitos e regulação de tecnologias emergentes como a inteligência artificial. Anacláudia Rossbach salientou que o Pacto reconhece “a importância de uma nova agenda sobre habitação e cidades, a relevância dos governos locais e regionais e as oportunidades proporcionadas pela digitalização e tecnologia”, para promover cidades inteligentes que integrem inovação e sustentabilidade.
Com o tema “Tudo começa em casa”, o FUM12 sublinha a importância de soluções locais que melhorem as condições de vida nas próprias comunidades. Numa mensagem de vídeo, o secretário-geral da ONU, António Guterres, enfatizou que “o progresso real começa ao nível local, no terreno, nas comunidades e nas vidas das pessoas”, reforçando que as cidades são “motores poderosos de desenvolvimento social e económico e catalisadores de soluções sustentáveis”.
Grande parte do crescimento urbano previsto acontecerá em África, onde a população deverá quase duplicar nas próximas três décadas. O impacto deste crescimento nas cidades será significativo, gerando novas pressões sobre infraestruturas, habitação e recursos naturais. Pela primeira vez, o Fórum decorre numa megacidade: o Cairo, com mais de 20 milhões de habitantes, é considerada uma das maiores áreas urbanas do mundo. O evento acolhe cerca de 37 mil participantes de mais de 182 países, destacando-se como um momento crucial para definir estratégias e compromissos que possam assegurar um futuro urbano mais equilibrado e sustentável para todos.
Este Fórum representa uma oportunidade única para os líderes globais e locais cooperarem na construção de cidades que respondam aos desafios do presente e que se preparem para o futuro.