Nos últimos tempos, o aumento dos preços dos alimentos em Portugal tornou-se uma realidade inescapável para as famílias portuguesas, que vêem o seu poder de compra ser corroído pela constante subida dos preços dos bens essenciais.

A DECO PROteste, uma das associações de defesa do consumidor mais respeitadas no país, lançou recentemente um alerta ao revelar os produtos alimentares cujos preços mais dispararam no período de 23 a 30 de outubro.

De acordo com a análise, o iogurte líquido e a alface frisada lideram esta subida, com um aumento de 11% em relação ao preço praticado anteriormente, o que representa, respetivamente, mais 24 cêntimos para cada produto. Estes aumentos afetam de forma significativa o orçamento familiar, sobretudo em artigos como o iogurte, um produto consumido diariamente por muitas famílias e essencial para uma alimentação equilibrada.

No terceiro lugar da lista de aumentos de preços encontra-se o robalo, que registou um acréscimo de 8%, ou seja, 54 cêntimos por quilograma. Este aumento é especialmente sentido em famílias que tentam manter uma dieta rica em proteínas de origem animal e que enfrentam agora maiores dificuldades em manter o consumo regular de peixe, um dos pilares da dieta mediterrânica promovida como saudável.

A DECO PROteste analisou 63 produtos essenciais e revelou uma tendência que tem vindo a agravar-se ao longo dos últimos meses: a escalada dos preços não parece abrandar. O impacto vai além da subida de preços pontual e reflete-se numa pressão significativa sobre a estabilidade financeira das famílias portuguesas.

Para muitos, a situação levanta questões sobre a origem destes aumentos e as razões para uma variação tão brusca em produtos básicos. A DECO e outros especialistas indicam que a inflação, em parte influenciada pelo aumento dos custos de produção e logística, se vê exacerbada por uma base especulativa que persiste nos mercados. Segundo alguns economistas, como explica o professor e economista João Ferreira do Amaral, “em tempos de incerteza, a especulação sobre os preços dos bens essenciais intensifica-se, criando uma bola de neve que afeta desproporcionalmente os mais vulneráveis”.

Estudos de mercado revelam que a subida dos preços dos produtos alimentares básicos é uma realidade global, mas que em Portugal a situação se torna particularmente complexa devido ao baixo poder de compra comparativo. Com as rendas e as prestações dos empréstimos habitacionais a subirem igualmente, as famílias enfrentam um contexto de despesas crescentes que abala o planeamento financeiro e a segurança económica.

No entanto, a pressão sobre o consumidor não se limita aos preços dos alimentos. Especialistas alertam que esta tendência pode alastrar-se a outros bens de primeira necessidade, mantendo a população numa situação de vulnerabilidade face aos choques económicos. Neste cenário, a DECO PROteste apela a uma monitorização rigorosa do mercado e uma ação coordenada para limitar a especulação desregrada que parece estar a contribuir para estes aumentos.

Enquanto o panorama não apresenta soluções de curto prazo, os consumidores são encorajados a adotar estratégias para maximizar o seu poder de compra, desde a comparação de preços entre diferentes superfícies comerciais até à aposta em produtos sazonais que tendem a ser mais acessíveis. A pressão continua sobre o governo e entidades reguladoras para que se promovam políticas que protejam o consumidor e impeçam a escalada especulativa que afeta as prateleiras dos supermercados.

Em última análise, e como sublinha a DECO PROteste, o aumento do custo de vida exige uma ação consertada entre o setor público e privado para garantir que a alimentação saudável e a segurança económica não se tornem um privilégio inacessível para muitos portugueses. Como afirmava o economista britânico John Maynard Keynes, “o mercado pode permanecer irracional mais tempo do que você pode permanecer solvente” – uma máxima que, infelizmente, parece estar a ganhar relevância no quotidiano de muitas famílias em Portugal.

Fontes:

• DECO PROteste
• Análises de mercado recentes sobre a inflação