Ao longo dos meus anos de experiência como coach e observador atento do comportamento humano, da neurociência e dos complexos processos de tomada de decisão, vejo-me hoje a ponderar uma questão que, em tempos, seria apenas um cenário improvável.

Imagino, com incredulidade, a possibilidade de Donald Trump voltar a ganhar as eleições. Por mais que a minha racionalidade e os meus conhecimentos me digam que isso não faz sentido, começo a questionar o próprio estado do mundo e a forma como as emoções humanas estão a ser manipuladas para além da lógica.

Assistindo de forma quase clínica às campanhas dos dois candidatos – uma liderada pela força de Kamala Harris e outra pelo retórico habitual de Trump – vejo um contraste tão evidente que parece até absurdo imaginar que ambos concorrem pelo mesmo cargo. 

Na campanha de Kamala, é impossível ignorar a presença de propósito, de emoções positivas, de esperança, de tudo aquilo que impulsiona as pessoas a acreditarem num amanhã melhor. Ali reina uma energia coletiva, uma sinergia que motiva e inspira.

Por outro lado, quando observamos a campanha de Trump, o ambiente parece escurecido. Ao invés de empolgação, reina o medo. Em vez de união, promovem-se divisões. A mensagem, ao invés de inspirar, manipula através de uma linguagem que alimenta o receio e a desconfiança. A ciência do comportamento humano ensina-nos que a emoção é a força motriz da tomada de decisões, mas também nos alerta para a natureza e qualidade dessas emoções. Quando são emoções positivas que movem o coletivo, o impacto tende a ser construtivo e duradouro; quando são emoções negativas, o resultado é geralmente destrutivo, divisivo e tóxico.

Como coach, o meu trabalho é ajudar pessoas e organizações a encontrar propósito, a liderar com empatia, a inspirar em vez de manipular. Por isso, ao ver a campanha de Kamala Harris, tudo me leva a crer que esta será a primeira mulher presidente dos Estados Unidos da América. A esperança, o propósito e a resiliência são elementos que, naturalmente, atraem as pessoas e promovem a mudança. Kamala representa essa mudança, essa evolução que muitos de nós aspiramos.

Se, ainda assim, o mundo optar por Trump, então, talvez, esteja na altura de eu próprio repensar tudo o que aprendi até agora. Seria, para mim, uma confissão de derrota do conhecimento e uma crise de crença na capacidade humana de escolher o progresso sobre a regressão.