VIVA OS 80 ANOS DO ORFEU BRASILEIRO CHICO BUARQUE

Paulo Martins – Editor Cultural

O Brasil comemorou ontem a passagem dos 80 anos do maior compositor de música popular brasileira vivo, o poeta que, sem dúvida, poderia ser chamado simbolicamente de Orfeu Brasileiro.

E não foi uma comemoração qualquer. Basta dizer que o Canal Brasil dedicou um dia inteiro de programação ao aniversariante. A Maratona Chico Buarque teve início na terça-feira à noite levando ao ar uma edição especial do Cinejornal sobre a carreira do artista. Na noite de quarta prosseguiu com uma série de reprises de documentários, shows, filmes e programas com a participação de Chico. Entre outros foram exibidos “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, de Bruno Barreto, “Vai Trabalhar, Vagabundo”, de Hugo Carvana e “Para viver um grande amor”, de Miguel Faria Júnior. Alguns dos filmes, como “Vai Trabalhar, Vagabundo, de Hugo Carvana, “A Ostra e o Vento”, de Walter Lima Jr e “Bye Bye Brasil, de Cacá Diegues, por contarem com canções temáticas de Chico.

A homenagem se estendeu pelo audiovisual, com obras que foram inspiração para roteiros cinematográficos, como “Veja esta Canção”, de Cacá Diegues, que conta quatro histórias de amor, entre elas, a baseada na canção “Samba do Grande Amor; Benjamin, de Monique Gardenberg, baseado no livro homônimo de Chico; e “Abismo Prateado”, de Karim Aimouz, inspirado na canção “Olho nos Olhos”. O documentário “Uma noite de 67”, de Renato Terra e Ricardo Calil, completou a maratona com um resgate histórico do 3º Festivalde Música Popular Brasileira, do qual Chico participou com a canção “Roda Viva” e foi um dos vencedores. 

A música também fez parte das homenagens com a exibição de três shows de seu percurso como artista: “Palavra de Mulher – O Cabaré dos Amores, “Banda seu Chico – Tem Mais Samba” e “Na Carreira”. Para completar foram reproduzidas importantes entrevistas concedidas pelo artistano passado.

A Rede Globo, que tem a maior audiência do país, além de entrevistar inúmeros músicos, jornalistas e estudiosos da obra de Chico, no curso da semana, dedicou um programa especial ao artista, na noite de seu aniversário.E continua a falar do artista, com o se seu aniversário tivesse uma duração bem maior do que um simples dia. É que a obra de Chico é tão vasta que é preciso mais tempo para fazer-se um painel completo da mesma. Além das canções, dos shows e dos filmes dos quais participou como autor ou da trilha sonora, ainda é preciso lembrar sua obra teatral, com espetáculos lapidares, como Roda Viva”, Ópera do Malandro” e “O Grande Circo Místico” (trilha sonora).

Contudo, o fenômeno mais expressivo e, pode-se até dizer, comovente, aconteceu nas redes sociais, com a postagem de uma quantidade “infinita” decanções de Chico, além de artigos, opiniões e, sobretudo, declarações de amor. Sim, porque Chico Buarque é uma das pessoas mais amadas do país, não só pela sua obra multifacetada, que tem despertado tantas paixões, mas também pela sua postura política firme e correta, pela sua empatia edelicadeza no trato das relações humanas, e pela sua capacidade de cativar as pessoas, em particular as do sexo feminino. Diz-se até que ninguém conseguiu, como Chico, penetrar na alma feminina de forma tão profunda, num fenômeno tido pelos psicólogos como capacidade inata de se “outrar”. Pode-se até dizer que ninguém deixou de se expressar no dia do aniversário de Chico, no mínimo parabenizando o artista, numa onda de afeto e de paixão nunca vista antes. Li postagens do tipo: “Se Chico não existisse, eu seria muito infeliz”.

É inegável que Chico Buarque tem um poder extraordinário de usar a música, a canção popular, para elevar, transformar e encantar as pessoas, o que o levaria à condição de um verdadeiro Orfeu. Já defendíamos esta tese em nosso livro de ensaios “As Diabruras de Orfeu”, publicado em 2020 pela Editora Lacre. Começa que Chico direcionou à temática do próprio poder da música, uma quantidade expressiva de suas criações, como a querer dizer a todos nós: abraça a música que serás salvo!” Não era essa a proposta maior encarnada no mito de Orfeu? A salvação do homem pela música?

Desde os primórdios de sua carreira, Chico vai exprimir da forma mais contundente e profunda o fenômeno do poder da música como prenúncio de felicidade. Fez inúmeras canções sobre a própria canção, em que esta aparece sempre como uma força poderosa, capaz de abrir o caminho da redenção pessoal diante da angústia da existência. A canção e o amor seguirão unidos no provimento da felicidade. Em Tem mais Samba enfatiza a relação do samba com o cotidiano da vida:

Tem mais samba no encontro que na espera

Tem mais samba a maldade que a ferida

Tem mais samba no porto que na vela

Tem mais samba o perdão que a despedida

Tem mais samba nas mãos do que nos olhos

Tem mais samba no chão do que na lua

Tem mais samba no homem que trabalha

Tem mais samba no som que vem da rua
Tem mais samba no peito de quem chora
Tem mais samba no pranto de quem vê
Que o bom samba não tem lugar nem hora
O coração de fora
Samba sem querer   (grifo meu)

 

De fato, essa tendência de exaltar a canção (o samba em particular) começa com a canção “Rita”, uma de suas primeiras, passa por Olé, Olá”, prossegue com “Tem Mais Samba” e chega até os dias atuais.Nesse sentido particular, esta última tem uma estrofe lapidar. A relaçãocanção/vida, que faz o coração “sambar sem querer”, oferece também uma chave mágica, com a qual será possível abrir as portas da felicidade:

Vem que passa

Teu sofrer

Se todo mundo sambasse

Seria tão fácil viver

Sua percepção do poder da música, se expressa muitas vezes “no poder do violão” -- na verdade uma tradição que Chico aprofundou em diversas canções como na própria “Rita”, na qual, depois de enumerar as perdas sofridas pela separação, arremata:

...e além de tudo

me deixou mudo

o violão.

 

O samba, sempre evocado por Chico, não é apenas samba ─ nossa expressão musical por excelência ─ mas toda a música do mundo. Em outra canção, Olê, Olá, de 1965, ele volta a exaltá-lo com o claro objetivo de atrair a felicidade e de reter o seu poder encantatório:

Não chore ainda não

Que eu tenho um violão

E nós vamos cantar

Felicidade aqui

Pode passar e ouvir

E se ela for de samba

Há de querer ficar

 

O violão é a materialização do samba e muitas vezes é comparado à mulher, como em “Samba e Amor”, de 1970:

No colo da bem-vinda companheira

No corpo do bendito violão

Eu faço samba e amor a noite inteira

Não tenho a quem prestar satisfação

 

Enfim, a canção buarqueana está sempre procurando ressaltar o poder do samba, que é o poder da música, o tempo órfico da felicidade. 

Essa felicidade provocada pela música vai aparecer de forma exemplar e surpreendente em outra composição histórica do artista. Chico terá, então,seu momento de expressão máxima. Sua canção “A Banda”, a mais perfeita apologia da capacidade da música de levar felicidade às pessoas, causou uma verdadeira catarse durante o II Festival da Canção Popular da Record, em 1966, ao sair vencedora. Dessa vez não é um samba, mas uma marchinha, no ritmo alegre das orquestras filarmônicas do interior. A Banda é uma canção que faz com que todas as pessoas se sintam felizes, produzindo o milagre que regurgita do mito de Orfeu. Nesse aspecto, a marchinha de Chico não faz mais que reproduzir um fenômeno antigo: a alegria trazida pelo desfile das bandas nas cidades do interior do país, quando todo mundo sai à porta para “para ver, ouvir e dar passagem” e a felicidade parece ressurgir no coração de todos: alegres e tristes, bonitos e feios, velhos e jovens, ricos e pobres, bons e maus.

 

Estava à-toa na vida

O meu amor me chamou

Pra ver a banda passar

Cantando coisas de amor.

A minha gente sofrida

Despediu-se da dor

Pra ver a banda passar

Cantando coisas de amor.

 

 

“A minha gente sofrida despediu-se da dor” é um verso chave da canção. Exprime exatamente a essência do mito de Orfeu: a música como único fenômeno do mundo capaz de aliviar a dor e trazer a felicidade coletiva. Mas Chico percebeu que era preciso estendê-lo a limites ainda mais amplos, que até certo ponto extrapolam o próprio alcance do mito. Agora, ao lado do povo que se torna alegre e feliz, é a própria cidade que se enfeita toda para ver a banda passar.

 

A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu
A lua cheia que vivia escondida surgiu
Minha cidade toda se enfeitou
Pra ver a banda passar cantando coisas de amor

 

O poder da música nessa história ultrapassa a esfera dos seres vivos e atinge o mundo inanimado: a lua, as ruas e as praças da cidade.

Carlos Drummond de Andrade, numa crônica publicada no Correio da Manhã de 10/10/1966 assim se refere à canção de Chico Buarque: “A felicidade geral com que foi recebida essa banda tão simples, tão brasileira e tão antiga na sua tradição lírica que um rapaz de pouco mais de vinte anos botou na rua, alvoroçando novos e velhos, dá bem a ideia de como andávamos precisando de amor”. Aí está uma comprovação inconteste de como a música de Chico, nesse momento representando toda a música do mundo, foi capaz de encantar o povo inteiro, num momento de grave infelicidade coletiva marcado pela mão forte da ditadura militar.

Para ter-se uma dimensão exata dessa fantasia, a canção de Chico Buarque termina com a própria anulação de seu efeito, quando a banda para de tocar e tudo volta ao que era antes:

Mas para o meu desencanto

O que era doce acabou

Tudo tomou seu lugar

Depois que a banda passou.

E cada qual no seu canto

Em cada canto uma dor

Depois da banda passar

Cantando coisas de amor

 

 

Para que haja felicidade, a música precisará, portanto, ser cotidiana, eterna, não pode cessar. Eis porque tantos compositores cantaram a quarta-feira de cinzas como o tempo da não-música, isto é, o tempo de cessação da felicidade

Daí para frente, como digo em As Diabruras de Orfeu”, o tema do poder da música se entranhará em toda a obra de Chico. Mesmo em canções que foram associadas à luta contra a repressão ele aparece. Em Maninha, o herói buarqueano se refere a uma crença que comandaria o tempo através da música. Sabendo-se que a música é um fenômeno essencialmente do passado, isto é, que faz recordar o passado; é ela quem vai ressuscitar as imagens da infância e, portanto, a felicidade perdida. Esse regresso é uma obra da canção:

 

Se lembra da fogueira

Se lembra dos balões

Se lembra dos luares dos sertões

A roupa no varal

Feriado Nacional

E as estrelas salpicadas nas canções

Se lembra quando toda modinha

Falava de amor

A canção, então, sendo o passado, se projeta no futuro, prometendo um raiar do dia que será o retorno da felicidade:

 

Se lembra do futuro

Que a gente combinou

Eu era tão criança

E ainda sou

Querendo acreditar

Que o dia vai raiar

Só porque uma canção anunciou

 

Em Apesar de você, Chico reafirma os mesmos poderes indiretamente, em um plano onde a música é perseguida, como expressão da liberdade:

Quando chegar o momento

Esse meu sofrimento

Vou cobrar com juros, juro

Todo esse amor reprimido

Esse grito contido

Este samba no escuro

 

 

O “samba no escuro” é uma das imagens mais fortes e condensadas já criadas por Chico. Seu efeito súbito e contundente possui dois significados: o de sofrimento ─ já que cantar no escuro é um ato agônico, quase desesperado ─ e o de resistência ─ posto que, mesmo no escuro, ele não deixa de cantar. O canto no escuro será cobrado no futuro com juros dobrados.

Mais adiante vamos encontrar outra canção de Chico que ilustra de uma forma mais explícita toda esta fantasia da música e do canto como salvação pessoal, social e da própria humanidade. O canto é eterno e tem o poder de suprimir a dor. Parece não ser à toa que se chame mesmo Fantasia:

Canta, canta uma esperança

Canta, canta uma alegria

Canta mais

Revirando a noite

Revelando o dia

Noite e dia, noite e dia

Canta a canção do homem

Canta a canção da vida

Canta mais

(,,,) Noite e dia, noite e dia

 

 

Mas, diante das ameaças à liberdade e dos perigos da vida, frente à possibilidade de ter seu canto interrompido, Chico precisará ainda exprimir toda sua rebeldia e esperança em uma última canção, uma espécie de desvendamento de sua visão órfica. É o que acontece com Cordão, em que, finalmente, desfecha seu grito de guerra:

 

Ninguém, ninguém vai me segurar

Ninguém há de me fechar

As portas do coração

Ninguém, ninguém vai me sujeitar

A trancar no peito a minha paixão

Eu não, eu não vou desesperar

Eu não vou renunciar, fugir

Ninguém, ninguém vai me acorrentar

Enquanto eu puder cantar

Enquanto eu puder sorrir

 

 

De um modo geral, a canção buarqueana continuará exaltando um tempo de felicidade, livre da dor, que só pode ser um tempo de música. Tal exaltação se expressará sempre como uma forma de resistência: ora em defesa de um passado prefigurado na infância (A Banda, Realejo), ora em defesa de um tempo de festa, prefigurado nos grandes símbolos musicais que ele explorará à exaustão: Carnaval, samba, canção e dança (Sonho de um Carnaval, Noite dos Mascarados, Tem mais Samba, Olê, Olê etc.).

Em um último disco dessa fase (1980), caracterizada por uma forte resistência política e social e pelo uso de uma linguagem contundente que subverte o cotidiano, ele dá a receita da felicidade àqueles que são incapazes de amar, isto é, de cantar. No mínimo, o canto sugerido deve fazer “o amor brotar melhor” e embora seja incapaz de cerzir “um coração rasgado”, tenta provar que “Inda é melhor / Sofrer em dó menor / Do que você sofrer calado”. Nasce então a sua mais explícita, genérica e dialética canção sobre a canção, denominada simplesmente Qualquer canção, em que diz:

 

Qualquer canção de bem

Algum mistério tem

É o grão, é o germe, é o gen

Da chama

E essa canção também

Corrói como convém

O coração de quem

Não ama

 

Desde épocas remotas da humanidade até os tempos atuais, os mitos gregos têm sido tema de inúmeras obras plásticas, literárias, poéticas, musicais e cinematográficas. A Odisseia de Homero consolidou, na antiguidade clássica, a importante vertente literária a eles associada, servindo de base referencial a uma sucessão de obras do mais alto valor estético, que prosseguem até os dias de hoje. De um modo geral, essa associação se manifesta na maioria das obras-primas da literatura, da música, das artes plásticas, do cinema e do teatro.

Chico compreendeu bem isso e nunca se distanciou dos mitos gregos. Em sua obra musical existem várias referências e inspirações correlatas.Desde “As Diabruras de Orfeu”, venho tentando estudar o papel que a cada dia o mito de Orfeu e Eurídice vem desempenhando na música de todos os tempos e em particular na música ocidental contemporânea. Pois quem ama a música não pode deixar de conhecer e de estudar o mito de Orfeu e Eurídice.

Foi o surpreendente e misterioso significado do mito de Orfeu e Eurídiceque me levou a adotá-lo como eixo central do roteiro do meu livro. E não foi difícil chegar até Chico. Cito um trecho:

A história de amor entre o músico, poeta e filósofo Orfeu e a ninfa Eurídice é uma das mais comoventes da mitologia grega. A descida do herói às sombras do inferno tentando resgatar sua amada serviu de inspiração para contadores de história e artistas de todo o mundo e de todas as épocas, desde a antiguidade clássica. Mas serviu de inspiração principalmente aos músicos, pela própria correspondência dessa arte às origens do poeta e citaredo da Trácia.

Através do mito de Orfeu e Eurídice, tentei pincelar com cores mais vivas minhas memórias e estudos musicais. Mas o que tomei dele naquelaabordagem foram somente os elementos diretamente relacionados com as canções que amo, que canto e que venho estudando ao longo do tempo, com seus significados que me parecem universais e sua poderosa capacidade de deslumbramento.

Digo ainda:

A supremacia cultural do mito de Orfeu é indiscutível, como acontece, aliás, com toda a música. Se a mitologia grega, de um modo geral, inspirou tantas obras literárias, musicais, poéticas, teatrais, plásticas e cinematográficas, o que dizer do mito de Orfeu e Eurídice separadamente? Seria impossível discriminar toda a sua riqueza, dado a quantidade de artistas fascinados pelo tema no mundo contemporâneo. Na literatura o encontramos em Hugo, Apollinaire, Valéry, Rilke, Pierre Emmanuel, Miguel Torga, Sophia de Mello Breyner e mesmo em nossos poetas Olavo Bilac e Jorge de Lima. No teatro há uma vasta obra de referência: Victor Segalen, Jean Cocteau, Jean Anouilh, Tenessee Williams e Vinicius de Moraes, entre outros. Na música, o poeta sagrado foi cantado por autores do mais alto nível: Monteverdi, Liszt, Offenbach, Gluck, Strawinsky, Berio, Philip Glass, Vinicius, Tom Jobim. Nas artes plásticas, para ficarmos só na modernidade ─ já que na antiguidade são imensuráveis ─ basta citar Dürer, Ingres, Delacroix, Rubens, Chagall, Henry Leopold Lévy e Bourdelle. Na cinematografia, destaca-se Jean Cocteau, Marcel Camus e o nosso Cacá Diegues.

O significado do mito de Orfeu e Eurídice remete inevitavelmente à redenção do homem pela música. O fenômeno se dá de forma que, se o levássemos às últimas consequências, chegaríamos à base de uma preciosa quimera: todo o mal que acomete a humanidade poderia cessar com o reinado da música. O homem redimido, o homem puro e bom, o homem civilizado é o homem que canta, é o homem que se deixou encantar pela poesia, pela música. Se todos os homens pudessem ouvir e curvar-se à lira de Orfeu, a humanidade poderia chegar às portas do paraíso. Ao invés de empunharem armas e se massacrarem mutuamente eles empunhariam uma cítara, imitariam Orfeu e o milagre da paz e da felicidade poderia ser alcançado. Um sonho, certamente. Mas o sonho continua sendo o mais saboroso e mágico elixir de vida. E como os mitos, nunca morrem.

O sentido do mito de Orfeu encarna uma vasta dimensão filosófica. Uma amiga francesa contou-me uma história bem ilustrativa a respeito, com base na linguística. Estava ela e seu marido assistindo a uma aula do grande mestre viloncelista francês Paul Tortelier na BBC de Londres, quando ele começou a falar das raízes da palavra francesa “méchant”. Constatei que sua explicação ilustrava à perfeição o sentido que eu atribuía aos preceitos órficos. Decompondo a palavra “méchant” ele diz: “Mé” é um prefixo que significa “mauvais, négatif” (mal, negativo); “médire”, por exemplo, (“mé” + “dire”) significa “maldizer”, falar mal de alguém. Aplicando sua análise à palavra “méchant” [ + chant (canto)], Paul Tortelier conclui que “l’homme méchant” (o homem mal) é o homem sem canto, isto é, sem música. Enfim, o homem mal é aquele que foi privado do canto.

MUITOS VIVAS AO ORFEU BRASILEIRO CHICO BUARQUE!

 

Foto de destaque: Photo credit: Palácio do Planalto on VisualHunt 

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