Em Bangladesh, pelo menos cem pessoas ficaram feridas durante violentos confrontos entre manifestantes estudantis e grupos leais ao partido no poder, decorrentes de protestos contra o sistema de cotas de empregos governamentais.

Os manifestantes argumentam que o sistema de cotas beneficia desproporcionalmente filhos de grupos pró-governo, exigindo a sua eliminação completa.

O atual sistema de cotas reserva mais de metade dos cobiçados cargos públicos, centenas de milhares de empregos governamentais bem remunerados, para grupos específicos, incluindo descendentes dos combatentes da guerra de independência de 1971 contra o Paquistão. Críticos afirmam que este sistema favorece os filhos de grupos pró-governo que apoiam a Primeira-Ministra Sheikh Hasina, que está no seu quarto mandato consecutivo após uma eleição boicotada pela oposição em janeiro passado.

A Luta no Campus Universitário

Os confrontos eclodiram na Universidade de Dhaka, onde manifestantes anticotas e estudantes pró-governo lutaram durante horas, atirando pedras e utilizando paus, barras de ferro e facões. Testemunhas relataram cenas caóticas com bombas de gasolina sendo lançadas. O policial Mostajirur Rahman descreveu à AFP o cenário de violência, onde ambos os grupos "entraram em choque com paus e atiraram pedras uns nos outros."

Nahid Islam, coordenador dos protestos, descreveu o ataque como uma agressão à sua "manifestação pacífica," resultando em pelo menos 150 estudantes feridos, incluindo 30 mulheres, e 20 em estado grave.

Reações e Consequências

Num hospital em Dhaka, Shahinur Shumi, uma estudante ferida, relatou a surpresa do ataque durante o protesto pacífico. "De repente, a Chhatra League [ala estudantil do partido governante] nos atacou com paus, facões, barras de ferro e tijolos," disse ela.

O Ministro das Relações Exteriores, Hasan Mahmud, acusou os manifestantes de tentar transformar o movimento anticotas num movimento anti-Estado, assegurando que o governo não permitirá que uma situação instável se desenvolva.

Apesar da suspensão temporária das cotas pelo tribunal superior de Bangladesh, os manifestantes continuam a exigir a eliminação completa do esquema. A Primeira-Ministra Hasina, numa conferência de imprensa, criticou os opositores das cotas para descendentes de combatentes da liberdade, enquanto estudantes afirmam que apenas as cotas para minorias étnicas e pessoas com deficiência, que representam 6% dos empregos governamentais, deveriam ser mantidas.

Continuação dos Protestos

Os protestos, que iniciaram na noite de domingo e continuaram na segunda-feira, interromperam o trânsito em áreas estratégicas de Dhaka, incluindo perto da embaixada dos Estados Unidos. A Primeira-Ministra Hasina, numa declaração infeliz, comparou os manifestantes aos combatentes Razakar, que colaboraram com o exército paquistanês durante a guerra pela independência.

Os estudantes permanecem firmes na sua luta, exigindo justiça e igualdade no acesso aos empregos governamentais, enquanto o país se confronta com a crescente tensão entre os jovens e o governo estabelecido.

Foto de destaque: IA;  imagem simbólica que representa os protestos dos estudantes em Bangladesh que transmita a força e a determinação dos estudantes na sua luta contra o sistema de cotas de emprego.