O BE entra em crise reflexiva!

A coordenadora do BE reconheceu hoje,23,06, que o seu partido teve um "mau resultado" nas europeias e anunciou uma Conferência Nacional para debater o papel do partido no atual ciclo político e a política de alianças para as autárquicas do próximo ano.

Na conferência de imprensa para apresentar os resultados da Mesa Nacional da véspera, Mariana Mortágua assumiu o acima pois "perdeu votos, perdeu percentagem e perdeu um mandato", sendo esta a "sequência de uma perda eleitoral" que o partido não foi capaz de travar.

Entretanto, os eleitos pela moção E, a oposição à direção de Mariana Mortágua, enviaram ja ontem à comunicação social o projeto de resolução que apresentaram, estando entre estes nomes que assinam a resolução os ex-deputados Pedro Soares e Carlos Matias.

"O mau resultado do Bloco prolonga para este novo ciclo eleitoral as derrotas do ciclo anterior, desde 2019, numa preocupante linha de continuidade que exige ser explicada", defende a oposição bloquista.

Segundo eles, "não é um resultado pontualmente negativo que possa ser assacado à cabeça de lista ou inteiramente explicado pela conjuntura nacional".

"Há, necessariamente, uma responsabilidade ligada à linha política seguida desde o período da geringonça. Esse é o balanço que importa fazer e que tem sido evitado ou protelado", criticam.

Para setores mais jovens, na opinião destes opositores, "o Bloco tornou-se significativamente indistinto ou apendicular do PS" e "trocou a radicalidade com que nasceu e se afirmou, pelo conforto da adaptação ao sistema".

"Como se torna evidente nas posições sobre a guerra, na colagem às posições armamentistas do governo e da NATO, na ausência de crítica ao regime de Zelensky, na ambiguidade e falta de iniciativa sobre a Palestina, na ausência de crítica à construção neoliberal da UE, na ligação utilitarista aos movimentos sociais e ambientais, na desvalorização da intervenção local, na ausência de um projeto de sociedade, na omissão de um projeto ecossocialista", apontam estes dirigentes opositores à atual direção de Catarina Mortagua.

Ainda assim no contexto da derrota, "a eleição de uma eurodeputada foi o aspeto positivo que permitiu ao BE ter representação no Parlamento Europeu".

"Mas, não pode ser motivo para euforias ou servir para fugir a um balanço aprofundado que conduza às mudanças necessárias, sob pena de perda de identidade e declínio irreversível".

Segundo os membros desta moção de oposição ha ainda que lembrar que o "PS consegue ganhar com um crescimento percentual de votos em relação às últimas legislativas, aproximando-se do resultado das Europeias de 2019, apesar da intervenção direta do governo AD na campanha".

"A extrema-direita tem uma perda importante de votos, comparativamente às recentes legislativas antecipadas, que configura uma derrota política e eleitoral", refere, apontando que a IL e o Livre (este que não elegeu) "crescem em relação às anteriores Europeias e legislativas".

Os críticos internos da atual direção do BE apontam ainda que bloquistas e PAN "são os partidos que mais votos perdem, em termos relativos e absolutos, em comparação com as Europeias de 2019 e legislativas deste ano".

Os bloquistas elegeram a cabeça de lista e antiga coordenadora, Catarina Martins, mas perderam a dupla representação que tinham conquistado nas Europeias de 2019, com Marisa Matias e José Gusmão.

Esta reunião da Mesa integra certamente o facto BE ter perdido a representação que tinha na Assembleia Legislativa Regional da Madeira, eleições nas quais conquistou 1,41% dos votos, correspondente a 1.912 boletins.

Perante os resultados e a critica da sua oposição o BE defende ter de trabalhar para "reverter este ciclo político", e mais ainda a coordenadora do BE anunciou que foi decidido "abrir um debate alargado, dentro e fora do partido sobre a afirmação do Bloco de Esquerda como uma esquerda moderna, unitária".

"Um primeiro passo nesse processo é uma Conferência Nacional que a Mesa Nacional convoca para o ultimo trimestre de 2024", antecipou, referindo que este momento será de "participação aberta" aos militantes.

Mas ver na Conferência cidadaos independentes das Esquerdas… nada..

O objetivo dos bloquistas é que se faça um "debate muito alargado sobre o papel do Bloco de Esquerda no presente ciclo político, nacional e internacional".

"Queremos que essa conferência sirva também para fazer um debate sobre as responsabilidades da esquerda perante um ciclo autárquico que se abre agora e em particular para discutir a política de alianças do BE nas eleições autárquicas", disse.

A tese da direção do BE, segundo Mortágua, é que se "debatam as condições para convergências à esquerda que se possam traduzir em projetos verdadeiramente transformadores no território", havendo "a possibilidade de convergências mais alargadas para derrotar executivos de direita em sítios chave do país como em Lisboa", referiu.

Sobre as críticas da oposição interna de não ter sido feito um balanço sobre a linha política seguida na sequência da geringonça geradora deste ciclo de derrotas eleitorais, a coordenadora do BE defendeu que "esse debate está feito e que o Bloco de Esquerda nunca fugiu a ele".

"Temos que reconhecer o que aconteceu, temos que reconhecer que o Bloco teve um mau resultado [nas europeias], temos que compreender o ciclo político que enfrentamos, a viragem à direita, que ela não se reverteu nestas eleições, embora tenha havido uma transferência de votos entre os partidos de direita que provocou uma derrota ao Chega que é sempre de ressalvar neste balanço", apontou.

No entanto, para Mortágua, "no essencial o ciclo político é o mesmo".

"O debate que temos que fazer é como inverter este ciclo político e qual é o papel dos partidos de esquerda, porque esta é uma perda de espaço do Bloco, certamente, mas de toda à esquerda, em particular à esquerda do PS, e isso deve provocar-nos uma vontade de uma reflexão sobre o futuro, sobre como é que a esquerda se afirma como uma alternativa", defendeu.

A não abertura a um debate alargado continua a ser um sinal negativo para a necessária unidade nas Esquerdas para as Esquerdas para das estruturas partidárias!

Mas enfim estamos no começo de um processo !