Vivemos tempos em que mais de 20% dos portugueses vivem com o salário mínimo, com o custo de vida a aumentar e as desigualdades a aprofundarem-se.

Em contraste com esta realidade, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, e o PSD decidiram organizar um jantar de celebração dos três anos de mandato, em plena Estufa Fria, onde a sofisticação e o privilégio parecem contrastar cruelmente com as necessidades de muitos dos habitantes da cidade.

Enquanto uns celebram, outros lutam diariamente pela sobrevivência em bairros marcados pela exclusão social e económica. Pedro Nuno Santos, secretário-geral do PS, decidiu fazer o oposto de Moedas: visitou bairros da Grande Lisboa, onde recentemente se registaram confrontos motivados pela revolta social e pela insegurança. A agenda de Pedro Nuno Santos culminou com uma visita ao projeto "Gira no Bairro", uma iniciativa de proximidade que tem como objetivo aproximar a PSP das comunidades, promovendo a inclusão e o diálogo.

Numa mensagem clara aos jornalistas, Pedro Nuno Santos afirmou: “Achar que resolvemos o problema da insegurança só pela via da repressão é não perceber nada de como se constroem sociedades seguras. Sociedades seguras constroem-se com coesão, com igualdade, com o combate à desigualdade”. Estas palavras sublinham a visão de uma política baseada na inclusão, em contraste com uma política de isolamento e de privilégio que se torna visível nas celebrações de Carlos Moedas.

Ao mesmo tempo, o líder parlamentar do PSD, Hugo Soares, reagiu às declarações de Pedro Nuno Santos com uma defesa fervorosa do primeiro-ministro Luís Montenegro. Afirmou que Montenegro é um líder próximo das pessoas e que "está constantemente na rua, junto dos eleitores". Contudo, evitou responder diretamente à questão de uma visita aos bairros onde a tensão tem vindo a aumentar, preferindo desviar a atenção para o apetite pela jantarada luxuosa.

Hugo Soares não hesitou em desviar a questão da visita de Montenegro aos bairros, sugerindo que Pedro Nuno Santos estava “muito baralhado” ao criticar a ausência do primeiro-ministro nestas zonas sensíveis. “Se o primeiro-ministro entender que deve visitar algum dos bairros, estará”, disse Soares, mas sempre sem compromissos claros. Ao ser questionado mais uma vez sobre os planos de Montenegro para visitar esses locais, respondeu: “Isso tem de perguntar ao senhor primeiro-ministro, não faço ideia”. Uma resposta que não disfarça a urgência em iniciar a celebração, paga pela Câmara de Lisboa, e, portanto, pelos lisboetas.

Por seu lado, Pedro Nuno Santos relembrou o seu compromisso de estar presente no terreno, mencionando que já tem sido um padrão a sua rápida resposta aos problemas do país: “Em relação ao senhor primeiro-ministro já é um padrão porque também fui eu o primeiro a ir ao terreno a seguir aos incêndios. Quem governa o país não se pode furtar a estar presente no terreno com as pessoas", afirmou no final de uma manhã de visitas ao Bairro do Zambujal.

O contraste entre as duas abordagens não podia ser mais evidente. De um lado, uma liderança focada na celebração, indiferente à realidade social; do outro, um compromisso com a inclusão e a coesão social. A sociedade constrói-se com proximidade e não com afastamento.

Joffre Justino