Por Guilherme Bitencourt

 

A célebre frase de Voltaire, "Falar bonito não prova nada," reverbera através das eras como um lembrete perspicaz da importância da substância sobre a forma, da autenticidade sobre a retórica brilhante.

Essa sentença encapsula uma verdade profunda que ecoa em todos os aspectos da comunicação humana e ressoa especialmente nos dias de hoje, em uma era marcada pelo poder das palavras e pela influência da eloquência.

A sociedade contemporânea muitas vezes é encantada por discursos persuasivos e bem formulados, que podem encobrir uma miríade de intenções, veracidade questionável ou falta de conhecimento real. O ser humano é naturalmente atraído pela habilidade de um orador em embelezar suas palavras, criando uma ilusão de autoridade ou sabedoria. No entanto, essa aparência externa muitas vezes não corresponde ao conteúdo interno.

Imagine um jardim exuberante que floresce com cores deslumbrantes e aromas encantadores, mas cujas raízes estão frágeis e subdesenvolvidas. De longe, pode parecer uma obra-prima da natureza, mas a falta de força e substância subjacentes eventualmente revelará a fragilidade oculta. Da mesma forma, a retórica vazia pode envolver audiências e conquistar admiração, mas sem um alicerce sólido de conhecimento, ética e intenção genuína, as palavras tendem a murchar com o tempo.

Um exemplo clássico dessa premissa é o vendedor habilidoso que promete riquezas infinitas com seu discurso cativante, mas cujos produtos ou planos não passam de falsas esperanças. Aqui, a frase de Voltaire é uma advertência para que as pessoas não caiam na armadilha do encantamento vazio, mas sim avaliem criticamente as evidências, as intenções e a credibilidade por trás das palavras.

Na esfera política, essa citação de Voltaire ganha relevância, especialmente em épocas de eleições. Políticos eloquentes podem conquistar o apoio das massas, mas, sem ações concretas que respaldem suas palavras, a confiança rapidamente desmorona. O discurso pomposo pode criar uma fachada de competência, mas não pode sustentar uma liderança duradoura sem resultados tangíveis.

É crucial, portanto, distinguir entre a verdadeira autoridade e a aparência de autoridade, entre a comunicação eficaz e a manipulação habilidosa. A frase de Voltaire nos convida a aprofundar nossas análises, a questionar, a pesquisar além das palavras para encontrar o cerne da questão. Ao fazer isso, reafirmamos o valor da integridade, do conhecimento genuíno e da autenticidade em um mundo muitas vezes envolto em discursos pomposos e superficialidade.

A realidade moderna, impulsionada pela tecnologia e pelas redes sociais, amplificou a disseminação de informações e opiniões. No entanto, essa vasta quantidade de informações frequentemente leva ao aumento da retórica vazia. É fácil se perder em um mar de palavras impressionantes sem conteúdo substancial. Muitos influenciadores, por exemplo, podem parecer autênticos e confiáveis, mas sem um respaldo sólido de conhecimento ou experiência, suas palavras são apenas uma ilusão passageira.

Imagine um céu noturno cheio de estrelas brilhantes que, na verdade, já se extinguiram há muito tempo. Da mesma forma, as palavras eloquentes podem brilhar intensamente, mas sua validade pode ter se apagado há muito tempo. A frase de Voltaire nos convida a buscar a constelação de significado real em meio a esse brilho superficial, a identificar a substância e a confiabilidade subjacentes.

No entanto, é importante lembrar que a eloquência não é intrinsecamente ruim. De fato, a habilidade de se comunicar de maneira clara e impactante é uma ferramenta valiosa. A mensagem de Voltaire não é descartar a habilidade de falar bem, mas sim lembrar que as palavras devem ser respaldadas por substância. A eloquência pode ser a ponte que conecta as ideias complexas à compreensão geral, mas essa ponte só é forte se os pilares do conhecimento e da verdade a sustentarem.

Para ilustrar, imagine uma pintura magnífica pendurada em uma parede rachada e instável. A beleza da pintura é ofuscada pela fragilidade do suporte. Da mesma forma, a eloquência sem substância é como uma obra de arte deslumbrante em um alicerce fraco de credibilidade.

Nessa jornada de discernimento, a literatura também oferece exemplos memoráveis que ecoam a ideia de Voltaire. Tomemos como exemplo o romance "O Grande Gatsby", de F. Scott Fitzgerald. Jay Gatsby, o protagonista, é conhecido por suas festas extravagantes e sua eloquência cativante, mas por trás da fachada brilhante esconde-se um vazio emocional e uma busca obsessiva por algo inatingível. A narrativa revela como a superfície deslumbrante de Gatsby contrasta com sua realidade interior, ressoando com a advertência de que a eloquência desprovida de verdadeira profundidade não é suficiente para construir uma vida significativa.

Além disso, podemos considerar o mundo das artes visuais. Uma pintura exuberante e colorida pode atrair nosso olhar inicialmente, mas a verdadeira apreciação vem da compreensão das técnicas, da história do artista e das emoções que a obra evoca. Assim como na comunicação, a beleza externa pode servir como um convite, mas é a conexão emocional e intelectual que nos deixa verdadeiramente envolvidos.

Ao refletir sobre a frase de Voltaire, podemos pensar nela como um lembrete sobre a busca da autenticidade. Ela nos chama a olhar além das palavras bonitas, a não nos contentarmos com superfícies brilhantes, mas a procurar por substância e integridade. Seja na esfera pessoal, profissional, política ou artística, o discernimento é uma ferramenta vital para navegar em um mundo onde o verniz muitas vezes oculta a verdade. Somente quando procuramos o significado por trás das palavras é que podemos encontrar um terreno sólido para construir entendimento, confiança e relações verdadeiras.

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