Nesta escola, coexistiam alunos portugueses (brancos, mestiços e negros) e estudantes de várias origens internacionais, incluindo residentes dos PALOP, cubanos, romenos e russos. Esta diversidade cultural e étnica gerava desafios, e por isso, além de um acompanhamento afetivo e psicológico interno (para o qual as verbas disponíveis nunca foram suficientes), realizava-se quase mensalmente um diálogo entre o diretor pedagógico e os delegados de turma. E, frequentemente, a direção da escola contava com o apoio da Escola Segura, cujos agentes faziam visitas regulares à instituição.
No Estrategizando, conhecemos de perto tanto o melhor quanto o pior da PSP, sempre mantendo um diálogo direto e transparente.
Embora a escola tivesse, em tempos, uma neta de um dos três homens mais ricos de Portugal como aluna (motivo que desconhecemos), tratava-se de uma instituição com alunos de famílias de classe baixa e média-baixa. Em várias ocasiões, devido à origem étnica dos nossos estudantes, fomos obrigados a romper relações com empresas onde o racismo imperava.
Sendo uma escola laica e republicana, realizámos diversas iniciativas cívicas: uma homenagem a Martin Luther King (com o apoio da Embaixada dos EUA), uma homenagem a Jorge Amado, uma visita anual à prisão do Tronco em tributo a Luís de Camões, uma ida anual ao Palácio da Independência, entre outras ações. Mas o ponto essencial era o sentimento de segurança vivido na escola e o diálogo mantido com a PSP.
Problemas? Claro que existiram. Houve um episódio em que dois agentes da PSP revistaram à força dois alunos nossos e agrediram até um deles (curiosamente o aluno branco, porque se sentiu mais à vontade para protestar). Contudo, o nosso protesto gerou um imediato pedido formal de desculpas, uma resposta que reflete o respeito exigido pela cidadania.
A cidadania, independentemente da etnia, exige ser respeitada e ouvida, exige sentir-se segura e protegida. O problema que enfrentamos pode até estar relacionado com as más condições de trabalho e os baixos salários que podem estar a fomentar um ambiente suscetível a movimentos como o Zero ou ao fascismo encoberto em “fakes” como o 1143.
Então, que se clarifiquem as posições e que a responsabilidade para tal recai nas chefias da PSP e da GNR. Dialoguem, e sobretudo, dialoguem com quem pensa diferente de vós. Aceitem formação de quem é diverso e enriqueçam a vossa perspetiva através dessa diversidade.