Estamos a falar de princípios que remontam à Revolução Francesa, aquela que trouxe ao mundo os valores de Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Lembra-te, Ricardo, que estes não são meros ideais poéticos, mas sim a base sobre a qual assenta toda a ideia de sociedade justa. Tu, enquanto representante de um partido que se construiu em nome desses valores, não podes ignorar as necessidades dos mais frágeis em nome de uma suposta ordem ou justiça que esquece o essencial: a dignidade humana.
Não é de agora que enfrentamos desafios quanto à habitação e ao direito de cada pessoa ter um teto sobre a sua cabeça. A decisão de despejar, seja quem for, deve ser feita com uma consciência clara do impacto na vida daqueles que são afetados. Pergunta-te, Ricardo: estamos a resolver o problema da habitação ou estamos a criar novos problemas sociais?
Sabemos que existe quem se aproveite de falhas no sistema, que ocupe habitações de forma indevida, quem contorne regras com artifícios. Mas não será esse um sintoma de algo mais profundo? Não será essa uma chamada de atenção para o facto de que o sistema, tal como está, deixa de fora muitos dos que mais necessitam? Aplicar regras sem medir a sua humanidade é uma injustiça por omissão. Lembra-te que uma sociedade não é uma máquina de burocracia fria, mas sim um organismo vivo, composto por pessoas com necessidades, sonhos e vulnerabilidades.
Acreditas que despejar sem uma análise caso a caso honrará os ideais que nos trouxeram até aqui? Como podes falar em justiça quando se descura a dignidade, o respeito e o direito básico de uma pessoa não ser tratada como um número num processo?
“Onde não há justiça, não há liberdade, e onde não há liberdade, não há paz.” Esta frase de François Mitterrand, um dos grandes líderes do nosso tempo, ecoa com força neste momento. E como poderás tu, Ricardo, assegurar que não estás, de forma inadvertida, a fragilizar ainda mais a nossa já combalida coesão social?
Ao longo da história, a esquerda sempre se uniu em defesa dos mais vulneráveis, dos oprimidos, dos esquecidos. Não te esqueças, Ricardo, que aqueles que hoje estão sob ameaça de despejo, amanhã podem ser a tua base de apoio, aqueles que acreditaram no teu projeto e no teu compromisso para com o bem comum. Não é hora de abandoná-los.
Que a tua liderança, enquanto autarca, seja marcada pela compaixão e pela integridade. Que possas olhar para esta situação não como uma simples questão de regularidade administrativa, mas sim como um apelo urgente para uma política com rosto humano, uma política onde o social vem antes do económico, e onde o humano nunca é subjugado pelo burocrático.
Que esta seja a tua escolha, Ricardo Leão: fica ao lado daqueles que não têm voz.
Joffre Justino