A derrota de Kamala Harris desafia profundamente as crenças de muitos que, como eu, acreditavam na força inquebrantável dos valores democráticos e da razão humana. Durante o percurso eleitoral, fiz uma aposta consciente e convicta: acreditava que Kamala se tornaria a primeira mulher presidente dos Estados Unidos, símbolo de esperança e de um futuro inclusivo. A realidade, porém, trouxe uma verdade dura e inesperada.
Enfrentar a vitória de Donald Trump implica, para mim, mais que uma simples reavaliação de uma previsão; exige uma reflexão sobre o papel das emoções, da manipulação e dos perigos invisíveis que corroem a capacidade humana de discernir.
Numa postura serena, mas dolorosa, Kamala Harris aceitou o desfecho das eleições com dignidade. E eu, como coach e observador do comportamento humano, devo também aceitar a minha própria falha na análise.
Não se trata apenas de um erro de previsão, mas de um choque com uma realidade que desafia os princípios nos quais acredito profundamente. Kamala representava, para mim e para muitos, o poder da liderança orientada por propósito e empatia — qualidades que, segundo os princípios da neurociência e da psicologia, deveriam naturalmente atrair as pessoas para uma escolha positiva e construtiva.
Contudo, os resultados mostram que há forças mais poderosas, quase invisíveis, a operar na psique coletiva, forças que manipulam as emoções de maneira subtil e eficaz. O erro que cometi não foi apenas uma questão de previsão incorreta, mas uma falha em compreender a magnitude do impacto dessas forças manipuladoras.
Ao observar as campanhas de ambos os candidatos, era evidente o contraste entre o otimismo de Kamala Harris e a retórica divisiva de Donald Trump. Parecia óbvio que a escolha certa, baseada na ciência do comportamento humano, seria aquela que promovesse a união, a esperança e o bem-estar coletivo.
Mas o que esta eleição evidenciou é que a manipulação emocional pode ter um impacto desproporcional, confundindo e cegando aqueles que, em tempos diferentes, poderiam ter escolhido o progresso.
Hoje, percebo que subestimei a força destas emoções negativas e o seu poder de distorcer a percepção da realidade. Tal como neurociência nos ensina, o medo e a desconfiança têm um poder avassalador na mente humana, criando uma resposta quase instintiva que, muitas vezes, ofusca a racionalidade.
A eleição de Trump serve para termos consciência de que, em tempos de incerteza, a desinformação e a manipulação conseguem facilmente alimentar divisões e controlar escolhas — escolhas que, à primeira vista, desafiam toda a lógica e razão.
Como coach, esta derrota desafia-me a reformular o meu mindset e a reconhecer que nem sempre o conhecimento e a racionalidade são suficientes para prever o comportamento humano em tempos de crise. A vitória de Trump exige, de mim e de todos aqueles que defendem valores de inclusão e progresso, uma introspeção profunda.
Precisamos de compreender que a luta pela verdade e pelos valores universais não se limita a campanhas inspiradoras e discursos emotivos; é uma luta que requer resiliência, vigilância e uma nova estratégia para enfrentar os mecanismos de manipulação e desinformação que obscurecem o discernimento.
O discurso de Kamala Harris e a sua aceitação da derrota são uma lição de humildade e de força. Ao refletir sobre este momento, vejo que a verdadeira liderança, em tempos de escuridão, não está apenas em ganhar, mas em manter acesa a chama da verdade, mesmo quando a realidade nos obriga a enfrentar as falhas das nossas próprias crenças.
Para todos os que, como eu, desejam um futuro melhor, este é o momento de reafirmar o compromisso com a verdade e de encontrar novas formas de resistir à manipulação. Tal como Albert Einstein afirmou, “os grandes espíritos sempre encontraram oposição violenta de mentes medíocres.” Este é um apelo a que sejamos vigilantes, a que desafiem as suas próprias crenças, a que se questionem e a que permaneçam fiéis aos valores fundamentais da humanidade.
A derrota de Kamala Harris não apaga o seu valor como símbolo de resiliência, mas sublinha a necessidade de uma maior consciência sobre as forças que desafiam a racionalidade e os valores universais. Para mim, representa um ponto de inflexão, um momento de aprender com o erro e de reconhecer que a luta pelo bem comum exige mais do que boas intenções; exige estratégias sólidas e uma compreensão profunda da complexidade do comportamento humano.
O que aprendi com esta eleição é que a luta pela verdade, pela igualdade e pela dignidade humana é mais complexa do que nunca. Como coach, esta experiência reforça o meu compromisso em procurar uma luz mais sólida e em desenvolver abordagens que resistam às sombras da manipulação. Kamala Harris pode ter perdido, mas a sua mensagem continua a ser uma fonte de inspiração para aqueles que, como eu, acreditam num futuro construído sobre a verdade e a razão.
A derrota não significa desistir, mas sim reconhecer o caminho que ainda falta percorrer e adaptar as estratégias para enfrentar um cenário de constante manipulação e desinformação. Como Sócrates afirmou: "Uma vida não examinada não merece ser vivida." Este é o momento de exame, de introspeção e de compromisso renovado. A luta continua, e com ela a nossa determinação em ser guardiões de um futuro mais iluminado e justo.
Morgado Jr.