A especulação nos preços ao consumidor: Uma análise ao impacto na inflação em Portugal

A recente análise da DECO sobre o preço do cabaz alimentar trouxe à luz uma questão inquietante: ao contrário do que muitos poderiam supor, a inflação não parece ser impulsionada apenas por fatores externos, como a guerra na Ucrânia ou tensões no Médio Oriente.

Entre os dias 2 e 9 de outubro de 2023, o preço do cabaz de 63 produtos alimentares essenciais subiu em torno de 0,44%, correspondendo a um aumento de 1 euro. Contudo, é importante sublinhar que, apesar dessa variação, os preços destes produtos já caíram, em média, 8,07 euros desde o início do ano.

Essas flutuações sugerem uma realidade mais complexa. De acordo com especialistas, a inflação alimentar em Portugal parece estar fortemente influenciada pela especulação no setor da distribuição. Ao longo de 2023, enquanto a inflação global começa a desacelerar devido à descida dos preços de energia e matérias-primas, o poder dos oligopólios da distribuição em Portugal tem mantido os preços alimentares elevados. Este comportamento especulativo tem sido um dos maiores contribuintes para a persistência da inflação no país, impactando diretamente o bolso dos consumidores.

A DECO destacou que as margens de lucro das grandes cadeias de distribuição têm sido amplamente protegidas, mesmo em períodos de alívio nos custos de produção. A falta de uma regulação mais robusta permite que os preços sejam ajustados de forma independente das condições globais, alimentando um ciclo de especulação. Este fenómeno, que favorece o lucro desproporcional dos distribuidores, evidencia a necessidade de uma maior transparência no setor.

Por outro lado, o Banco de Portugal reviu as suas previsões de inflação para o país, esperando uma descida gradual para 3,6% em 2024, refletindo a esperança de um alívio para os consumidores. No entanto, enquanto a especulação continuar a dominar o setor da distribuição, a descida dos preços nos supermercados pode demorar a materializar-se.

A conclusão é clara: a especulação, mais do que as crises internacionais, parece ser o verdadeiro motor por detrás dos preços elevados dos alimentos em Portugal. Esta realidade levanta preocupações sobre o futuro da economia e o bem-estar dos consumidores, e sublinha a necessidade de uma maior fiscalização e intervenção para mitigar os impactos deste problema.