O cenário é tenso e carregado de simbolismo. Imagine por um momento, um grupo de ativistas, alinhados em fila, sentados na estrada, paralisando o trânsito e capturando a atenção de uma nação.
Joffre Justino

A ação não é impulsiva, mas meticulosamente pensada. Estamos a falar do movimento Climáximo, um exemplo de cidadania ativa que, com recurso a formas não violentas de protesto, sacode a apatia governamental e empresarial em relação à crise climática.

António Guterres, o Secretário-Geral da ONU e ex-Primeiro-Ministro de Portugal, apelou à nossa consciência coletiva quando disse: ""A humanidade abriu as portas do inferno"" — um cenário catastrófico confirmado pelos incêndios devastadores, inundações e um calor insuportável que ameaçam a nossa sobrevivência. Ao mesmo tempo, empresas e governos continuam a dar passos titubeantes, muitas vezes até recuando nos compromissos climáticos.

Assim, é pertinente relembrar o Artigo 21 da Constituição da República Portuguesa, que explicita o ""Direito de resistência"". Sim, caros leitores, resistir é um direito constitucional quando as nossas liberdades e direitos estão sob ameaça.


O Climáximo não faz mais do que exercer esse direito, um direito que os desafia, que desafia todos nós, a enfrentar uma crise que transcende fronteiras e ideologias.


O filósofo francês Albert Camus uma vez disse: ""A única maneira de lidar com este mundo sem liberdade é tornar-se tão absolutamente livre que a sua própria existência é um ato de rebelião"". É esta rebelião pacífica que Climáximo encarna, lembrando-nos que as crises climática e social estão interligadas. Através de ações audaciosas, eles desafiam um sistema viciado em combustíveis fósseis e em uma acumulação de lucro insustentável, expondo as falhas morais de uma sociedade que se tornou complacente.

Perante tal entende o Estrategizando que, as e os Cidadãos pertencentes ao movimento Climáximo, que bloquearam esta terça-feira, 03.10.2023, de manhã a Segunda Circular no sentido Benfica-Aeroporto, junto às Torres de Lisboa agiram de forma ordeira e pacífica.

Sentados na estrada, em fila, impediram a circulação do trânsito durante vários minutos, antes de o protesto ter sido travado  por condutores que saíram dos carros e obrigaram os manifestantes a sair da estrada, com recurso inclusive a agressões.

A seguir  os manifestantes voltaram a bloquear a estrada, tendo sido retirados pela polícia e só passadas  quase duas horas, é que a situação de resolveu, inclusive com os bombeiros a retirarem dois manifestantes que estavam pendurados na ponte pedonal que atravessa a Segunda Circular segurando uma faixa onde se podia ler ""os governos e as empresas declararam guerra à sociedade e ao planeta"".

Note-se que todos estes atos são claramente Não Violentos sendo que o risco dos atos recai sobretudo sobre os ativistas! 

""Nós estamos aqui porque, efetivamente, os governos e as empresas declararam guerra à sociedade e ao planeta unilateralmente"", disse , em declarações à TSF, o porta-voz do movimento Climáximo, Noah Zino. ""As emissões de Portugal matam a cada dois dias as mesmas pessoas que morreram em Pedrógão Grande"".

""Percebo perfeitamente que as pessoas que sejam incomodadas pelas nossas ações as sintam como radicais, mas sabemos também que a continuação da emissão de gases com efeito estufa para a atmosfera, que neste momento está a matar de centenas de milhares de pessoas, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, é um ato de violência.

A miséria estrutural que se vive em Portugal, porque as casas não são isoladas e morrem milhares de pessoas em ondas de calor, é um ato de violência"", acusa Noah Zino.


Em comunicado, o grupo Climáximo afirma que os jovens ativistas foram levados para a esquadra de Benfica e anuncia uma vigília de solidariedade no local, até que todos os ativistas sejam libertados.


Na semana passada ativistas do grupo Climáximo interromperam o evento ""World Aviation Festival"", na FIL Lisboa, e pintaram a fachada daquele recinto com tinta vermelha, tal como foi usada a tinta verde sobre o ministro do Ambiente num evento da Galp! 

Ora, realmente,  entendemos que estes ativistas não fazem mais que cumprir o artigo 21 da Constituição da República, usando o seu Direito à Resistência, contra quem abusa dos direitos individuais e das comunidades perante esta gravíssima crise climática!

Assim, lançamos um apelo aos grupos parlamentares, à Presidência da República, ao Primeiro-Ministro e aos ministros da Justiça e do Ambiente. Não é apenas um direito, mas um dever moral agir perante a crise climática e reconhecer o direito à resistência como uma forma legítima de ação cívica.

Em suma, o movimento Climáximo não está sozinho nesta luta. A sua causa é a nossa causa. A sua resistência é o espelho de uma urgência que não podemos mais ignorar.


No teatro deste momento decisivo, cabe-nos a nós escolher se seremos meros espetadores ou atores comprometidos. O palco está montado. A cortina levantou-se. Qual será o seu papel?
Joffre Justino

Referências:


Artigo Climáximo - Potenciar o Futuro, o Problema e Empregos para o Clima

Entrevista com Leonor da campanha Empregos para o Clima

António Guterres citado em O Globo.

Constituição da República Portuguesa, Artigo 21 - Direito de resistência.


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