9,4 horas por ano, sr. JMTavares?

O jornalista JMTavares lançou mais uma daquelas "pérolas" no Público: “E a cada ano há cerca de dois milhões de aulas que ficam por dar”. Talvez esteja na hora de o sr. JMTavares voltar aos básicos da matemática e aprender a dividir — quem sabe, até a Fundação Belmiro de Azevedo pudesse juntar-se a ele nesta lição.

Imagino que o “seu” Belmiro ficaria surpreso se alguém usasse estas contas no negócio dos hipermercados, cujo nome me poupo de referir.

Mas vamos aos números, que não mentem: se há 2 000 000 de aulas não dadas e existem 213 000 professores, isso implica que cada professor "falta" em média… pasmem-se! 9,4 horas por ano, ou seja, 1,044 horas por mês (1 hora virgula zero quatro, ouviram bem...)! Estamos a falar de um mês inteiro para acumular a "enorme" ausência de uma hora.

Como ex-professor, sei que os atrasos, apesar de raros, existem. E quando ocorrem, muitas vezes são provocados pelo trânsito — afinal, os alunos não dão nem um segundo de margem antes de debandarem se o professor não estiver presente (um comportamento que, talvez, vem das “regras do lar católico”, sr. Tavares?).

Esta situação das “aulas não dadas” levanta ainda outra questão: o “entusiasmo” de certas fações por greves. Lembra-nos das palmas entusiásticas aos cartazes racistas de alguns professores (talvez do círculo de JMTavares?) e das greves que sindicatos alinhados com CDS, PSD, Chega e afins encorajaram. A ironia aqui é deliciosa, já que agora o antigo entusiasta das greves, o próprio JMTavares, parece estar incomodado com a situação.

E não vamos esquecer um detalhe importante: os professores portugueses, de acordo com o relatório “Education at a Glance 2024” da OCDE, ganham 9,4% abaixo da média salarial da OCDE e 4,1% abaixo da média dos professores na UE a 25. Em 2022, a diferença era de 36 mil euros por ano em Portugal comparado aos 46 mil na média da OCDE. E o que dizer dos gestores da dita fundação? A sra. Cláudia Azevedo, uma das cabeças da fundação em questão, ganhou em 2022 a módica quantia de 1,6 milhões de euros anuais — o que dá uns 114 000 euros por mês, ou 3 800 euros por dia.

E consta que, ao contrário dos professores, talvez falte um pouco mais que as famigeradas 9,4 horas anuais...

Há fake news que acabam por ser piadas, sr. diretor do Público!

Joffre Justino