Agora vejamos o outro lado do Atlântico. Em Nova Orleães, um condutor decidiu transformar a famosa Bourbon Street numa pista de horror, atropelando 14 pessoas e ferindo dezenas. O FBI chamou-lhe "terrorismo" — com razão, dado que o agressor ainda teve tempo de plantar explosivos em refrigeradores de gelo. No mesmo dia, em Las Vegas, um Tesla explodiu em frente ao hotel Trump, deixando um morto e sete feridos.
Joe Biden, o "idoso presidente" que Ventura gosta de ridicularizar, tratou os dois incidentes como aquilo que são: ataques graves, mas longe de justificar estados de sítio ou crises institucionais. Biden foi ponderado, realista e, acima de tudo, calmo. Já Ventura, perante um cenário muito menos dramático, parece pronto a declarar Portugal como zona de guerra, comparando rixas locais a cenários que fariam corar um especialista do FBI.
E, claro, não podemos esquecer a ironia suprema: Ventura idolatra Trump, mas se o ex-presidente soubesse que o seu "fã luso" acha que em Portugal se vive um ambiente de caos, enquanto os EUA enfrentam explosões e massacres, provavelmente ficaria pouco impressionado.
É caso para dizer: cada um escolhe o seu nível de medo. Ventura escolhe o exagero. Trump escolheria, provavelmente, ignorar o nervosismo do seu jovem admirador português. Afinal, que grande diferença existe entre uma camioneta no French Quarter e um caixote de lixo queimado em Lisboa, certo?
O que fica claro é que, enquanto Biden enfrenta o terrorismo com a serenidade de um estadista, Ventura prefere criar tempestades em copos de água. Talvez Trump devesse oferecer-lhe umas aulas de contenção emocional — ou, quem sabe, de análise comparativa de realidades. Afinal, um pouco de noção nunca fez mal a ninguém.