Portugal, o país que já foi o "campeão da segurança", decidiu hoje às 20h reinventar o conceito de comunicação política.

Numa jogada que deixaria os mais ousados estrategas de marketing com inveja, o Governo convocou nada menos que os seis maiores canais de televisão para um evento único: uma aula de segurança interna em horário nobre. Sim, leu bem. Em simultâneo, RTP-1, RTP-2, RTP-3, SIC, TVI e CNN Portugal tornaram-se palco de uma operação mediática que faria corar qualquer reality show de sucesso.

Tudo isto, claro, para nos ensinar — como se não tivéssemos mais nada para fazer — o que já sabemos: que viver em Portugal ainda é bastante seguro.

Workshop obrigatório para todos os portugueses

O Primeiro-Ministro assumiu o papel de professor, numa performance digna de uma peça amadora. Entre gráficos básicos e um discurso paternalista, explicou aos cidadãos aquilo que, até agora, parecia não ser uma preocupação nacional: a importância da segurança interna.
Num gesto tão nobre quanto despropositado, tornou-se claro que a "aula" não era apenas sobre segurança; era sobre ele próprio, a sua visão e, claro, o seu lugar de estrela mediática. Afinal, por que governar nos bastidores quando se pode ser a estrela principal do espetáculo?

Mas o que torna este episódio verdadeiramente memorável não é o tema ou a sua relevância. É a forma como foi imposto ao país inteiro. Se pensava que tinha escolha no que assistir hoje à noite, desengane-se. Entre telenovelas, debates políticos e séries internacionais, todos fomos forçados a sentar-nos na "sala de aula" nacional. Workshop obrigatório? Só pode ser. E quem não assistiu ficou com a sensação de que estava a faltar a uma aula que, de qualquer forma, não fazia sentido frequentar.

O Governo mais "popularuxo" da história

E o que dizer deste Governo, que parece ter-se tornado o mais "popularuxo" de todos os tempos? Nem a extrema-direita, nos seus 50 anos de tentativas mais ou menos desastradas, conseguiu tal feito: capturar a atenção nacional com tamanha pompa e circunstância. É como se o executivo tivesse decidido que, em vez de governar discretamente, à maneira de qualquer democracia funcional, preferisse desfilar numa passerelle mediática. O resultado? Um exercício de vaidade tão ridículo que não seria exagero chamá-lo de "o grande circo nacional".

Este evento mostra que o Governo atingiu um novo patamar de intervenção política: aquele em que as prioridades do Estado se transformam num espetáculo de autoengrandecimento. É como se o Primeiro-Ministro estivesse a dizer: "Olhem para mim, estou aqui a salvar o dia! Deixem tudo o que estão a fazer e aplaudam-me." O que resta saber é se este episódio será lembrado como um momento de liderança ou como o dia em que a montanha pariu um rato.

A palhaçada (in)direta

No final, não se trata apenas de segurança. Trata-se de um Governo que, com esta manobra, parece querer conquistar o título de campeão absoluto da irrelevância transformada em prioridade. Enquanto problemas reais — da saúde à habitação, da educação à inflação — esperam resoluções concretas, aqui estamos nós, cidadãos exemplares, a perder tempo com o que não passa de uma grandiosa encenação.

E o mais irónico? Não se ouve ninguém dizer que se sentiu mais seguro depois desta "aula". Porque, convenhamos, a segurança de um país não se reforça com discursos televisivos, mas com trabalho diário e políticas eficazes. No entanto, aqui estamos, papagueando as "ações extraordinárias" do Governo como se elas não fossem, na verdade, o básico de qualquer executivo democrático.

A montanha pariu um rato

E assim terminou o espetáculo, deixando os portugueses com uma sensação amarga de tempo perdido. Não houve revelações bombásticas, nem novas medidas concretas. Apenas a confirmação de que vivemos tempos em que a imagem supera a substância, e o espetáculo mediático se sobrepõe ao verdadeiro trabalho político.

Amanhã, o país ira acordar  com a mesma segurança de sempre, mas com uma nova certeza: estamos a pagar caro por um Governo que parece mais interessado em ser um fenómeno de popularidade do que em governar.

Afinal, o que fica para a história não é a aula, mas o ridículo exercício de vaidade que ela simbolizou.