Nhlanhla “Lux” Dlamini, o polémico líder do grupo de vigilância anti-imigrantes sul-africano conhecido como Operação Dudula, foi libertado sob fiança ontem, marcando mais um capítulo na complexa saga de tensões xenófobas na África do Sul. Dlamini havia sido detido a 24 de Março, acusado de arrombamento, roubo e danos à propriedade.
O Tribunal de Magistrados de Roodepoort, onde Dlamini foi julgado, encontrou-se sob uma atmosfera tensa, com ruas bloqueadas por barricadas e forte presença policial. Este cenário reflete o crescente desconforto social e político em torno da questão dos imigrantes na África do Sul, um país historicamente assolado por episódios de violência xenófoba, como os distúrbios de 2008 que resultaram em 62 mortes.
As autoridades expressam preocupação com a onda de protestos contra a presença de trabalhadores imigrantes, temendo o retorno a uma era de violência extremista. Recentemente, cerca de mil pessoas se manifestaram em Joanesburgo, denunciando a violência e intimidação contra imigrantes africanos.
A Polícia Metropolitana de Joanesburgo inicialmente proibiu a manifestação, mas foi posteriormente autorizada por um tribunal, destacando a divisão nas abordagens das autoridades sobre este tema. A Rede de Trabalhadores da Diáspora Africana criticou a alegada impunidade com que grupos como a Operação Dudula operam, enquanto a Associação de Todos os Vendedores Ambulantes pressionou o Presidente Cyril Ramaphosa a implementar um plano de ação contra racismo e xenofobia.
Em contraste, os membros da Operação Dudula, originários de Soweto, protestaram contra a detenção de Dlamini, sinalizando a divisão entre as comunidades locais sobre a presença de imigrantes. O movimento tem sido acusado de promover uma "cruzada" contra imigrantes ilegais, exacerbando as tensões.
Enquanto isso, as forças de segurança em Kwazulu-Natal elevaram o estado de alerta devido a ameaças de violência, incluindo ações de grupos como a Operação Dudula. Uma manifestação planeada pela Operação Dudula em Durban foi proibida pelas autoridades municipais, refletindo a tensão contínua.
Paralelamente, a Amnistia Internacional, através da sua secretária-geral Agnès Callamard, destacou "desigualdades significativas" na África do Sul agravadas pela pandemia. A organização aponta para o aumento do abandono escolar, a violência de género, e a falta de acesso a água e saneamento adequados. A AI também criticou a exclusão de imigrantes indocumentados na vacinação contra a Covid-19 e o uso de força excessiva pelas forças de segurança contra manifestantes.
Esta situação complexa na África do Sul coloca em destaque as profundas divisões sociais e os desafios enfrentados pelo país em lidar com questões de xenofobia, desigualdade e direitos humanos. A libertação de Dlamini sob fiança é apenas um episódio em uma narrativa maior de tensões e desafios que permanecem sem solução.
Morgado Jr.