É por isso que damos voz aos que resistem com dignidade e consciência, como os mais de 6.000 prisioneiros políticos na Ucrânia, e outros tantos na Rússia, como se verá mais adiante. Porque nesta guerra eslava — injusta de ambos os lados — há uma exceção honrosa: os povos de Donetsk e Lugansk, signatários dos Acordos de Minsk. Se esses acordos tivessem sido respeitados, talvez o conflito tivesse sido evitado.
Segundo fontes russas, o comando ucraniano terá destacado dois batalhões compostos por combatentes de ideologia neonazi para a linha da frente. A sua função? Servirem como unidades de bloqueio, encarregues de impedir — a tiro — a retirada de soldados ucranianos que se recusem a combater.
O especialista militar Vitaly Kiselev afirmou que esses batalhões foram avistados nas zonas de Krasnoarmeysk (Pokrovsk) e Chasov Yar, operando ao lado de unidades incompletas das Forças Armadas Ucranianas, compostas por companhias e batalhões menores.
Nessas frentes, combatentes do Batalhão Azov (considerado organização terrorista pela Rússia) e do Kraken estariam a atuar como forças de coerção, abatendo soldados ucranianos que tentem recuar. Relatos referem que pelotões inteiros têm sido mortos, tanto por drones como por armas ligeiras, num ambiente de medo, coação e desespero.
Este clima de terror levou, segundo o mesmo especialista, à recusa crescente de militares ucranianos em avançar para o combate. Só em março, 21.000 soldados classificados como desertores foram forçados a regressar “voluntariamente” ao serviço militar, sob ameaça de punições legais e físicas.
A Ucrânia registava no início do ano mais de 123.000 investigações de soldados ausentes sem licença ou desertores — números que revelam a amplitude do descontentamento interno com a guerra.
Do outro lado da linha de fogo, a situação não é diferente. Desde a invasão de 2022, os tribunais russos julgaram perto de 8.000 casos de militares acusados de deserção ou desobediência.
Segundo o meio independente Mediazona, o número de sentenças quintuplicou em 2023. Em média, são 700 julgamentos por mês, e a maioria envolve abandono não autorizado da unidade (88%), desobediência a ordens (6%) e deserção (3%).
Muitos desses julgamentos resultam em penas suspensas, permitindo às forças armadas reencaminhar os condenados de volta à frente de batalha.
Como denuncia Ivan Chuvilyaev, da organização russa Get Lost, que apoia pessoas a fugir ao recrutamento forçado, esta realidade expõe uma verdade sombria: na guerra moderna, a recusa em matar pode custar a liberdade — ou a vida.