E hoje, o que realmente interessa ao Conselho Europeu? A defesa ou a sobrevivência económica?

Na reunião informal do Conselho Europeu de hoje, 3 de fevereiro, o foco anunciado é a defesa. Contudo, é um equívoco pensar que este tema é o mais relevante para os cidadãos dos 27 Estados-membros. A verdadeira preocupação deveria estar centrada na guerra comercial que Donald Trump está a travar contra o mundo inteiro, colocando a União Europeia numa posição vulnerável.

António Costa, atual presidente do Conselho Europeu, iniciou o encontro dizendo:
"Tenho o prazer de receber os 27 líderes da União Europeia para uma reunião dedicada exclusivamente à defesa. Não começamos do zero, mas damos continuidade ao trabalho iniciado na cimeira de Versalhes, em março de 2022, onde decidimos que a UE tem de assumir uma maior responsabilidade pela sua segurança."

Este discurso, contudo, parece distante das preocupações reais da vasta maioria dos cidadãos europeus. A crise iminente não é militar, mas económica. Trump, com políticas de "terrorismo comercial", ameaça paralisar a atividade económica mundial, e o impacto já se faz sentir.

A agenda de defesa e os interesses geopolíticos

O encontro, que decorre no Palácio d’Egmont, em Bruxelas, conta com a presença de figuras como o secretário-geral da NATO, Mark Rutte, e o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer. António Costa propôs três questões principais para o debate:

  1. Quais as prioridades de defesa a desenvolver?
  2. Como assegurar o financiamento necessário?
  3. Como fortalecer a cooperação com os parceiros estratégicos?

Embora o objetivo seja promover um debate estratégico, não se esperam conclusões formais, mas sim um "sentimento comum de urgência" e uma vaga concordância sobre a necessidade de reforçar as capacidades de defesa. A ideia é que esta mensagem possa demonstrar que o tema da segurança está na agenda europeia, especialmente em tempos de tensões no Médio Oriente, na Ucrânia e face às mudanças na política externa dos EUA.

O elefante na sala: a guerra comercial

O problema é que o cenário mundial mudou drasticamente nos últimos dias. Enquanto a UE mantém um discurso ocidentalista e protelador, Trump ameaça diretamente os seus interesses comerciais. O que fará a Comissão Europeia quando os EUA aplicarem tarifas de 100% sobre os produtos do Canadá, ou taxas de 10 a 25% sobre os países europeus?
E o que dizer de outros cenários hipotéticos mas perturbadores?

  • A ocupação da Gronelândia, território dinamarquês, onde tropas estadunidenses já estão posicionadas.
  • A interferência no Golfo do México e no Canal do Panamá.
  • Uma intervenção militar nas fronteiras do México sob pretexto de travar a imigração.
  • Um acordo de paz entre os EUA e a Rússia sem a participação da Ucrânia.

Se estes cenários se concretizarem, o que poderá a UE fazer? Enviar tropas inexistentes contra os EUA? Acreditar em fantasias militares enquanto a economia se desmorona?

Um apelo à ação urgente

A guerra comercial de várias frentes só poderá ser travada se a União Europeia se posicionar imediatamente ao lado dos países afetados, impondo sanções políticas e comerciais aos EUA. A alternativa é continuar com discursos ocos, enquanto a UE se desarma perante a realidade. Se a Europa não assumir o seu papel de potência global, continuará a ser apenas um espectador irrelevante numa ordem mundial em rápida transformação.

Tudo o resto são palavras vazias.