O preço dos produtos alimentares tem sido uma preocupação crescente para os consumidores portugueses, particularmente quando se observa a constante flutuação nos preços dos bens essenciais. A DECO PROteste, associação de defesa dos consumidores, mantém um acompanhamento regular dos preços de um cabaz alimentar que inclui 63 bens essenciais, permitindo aferir tendências e identificar quais os produtos mais afetados.
O relatório destaca também que, quando comparado com o início do ano, os consumidores pagam agora **menos 7,79 euros (menos 3,30%)** para comprar exatamente a mesma seleção de produtos. Isto é, apesar da variação semanal positiva, o panorama anual revela uma ligeira descida nos preços. No entanto, essa descida não é uniforme para todos os produtos.
O produto que mais viu o seu preço aumentar foi o **café torrado moído**, cujo custo subiu **28%** face ao registado no início do ano, alcançando agora um preço médio de **3,99 euros** por embalagem, um incremento de 0,88 euros. Este aumento não é isolado e reflete a pressão de fatores como as condições climáticas adversas em países produtores, o aumento dos custos de transporte e as flutuações no mercado global de commodities.
Por outro lado, produtos como o **arroz, a massa e o azeite** mantêm-se estáveis ou com ligeiras descidas, especialmente graças ao aumento de oferta por parte dos mercados emergentes do Sul Global, como Brasil e países do Norte de África. Estes mercados têm desempenhado um papel crucial na estabilidade dos preços, fornecendo alternativas mais económicas e contrabalançando a pressão inflacionária de outras regiões.
Embora a inflação dos preços dos alimentos tenha abrandado ligeiramente em Portugal, o cenário global permanece instável. A guerra na Ucrânia, as sanções económicas à Rússia e as disrupções nas cadeias de fornecimento continuam a ter efeitos indiretos, mesmo nos mercados que se têm mantido relativamente estáveis.
Por exemplo, os cereais e os óleos vegetais têm sofrido flutuações drásticas, e qualquer alteração no fornecimento destas matérias-primas pode ter um impacto cascata no preço de produtos como massas, pão e outros bens derivados. Se o panorama internacional se mantiver tenso, os custos de importação podem voltar a subir, especialmente para bens que Portugal depende fortemente do exterior.
No entanto, um fator que tem ajudado a mitigar aumentos mais drásticos é o fornecimento de produtos agrícolas e alimentares do Sul Global. Países da América Latina, África e Ásia têm aproveitado a oportunidade para aumentar a sua participação no mercado europeu, oferecendo produtos a preços competitivos.
Com o foco do Norte Global em questões políticas e económicas internas, os produtores do Sul, tradicionalmente marginalizados, estão a ganhar protagonismo. Se esta tendência se consolidar, poderá alterar as dinâmicas de fornecimento a médio prazo, beneficiando o consumidor europeu e, em particular, o português.
A estabilidade dos preços a longo prazo depende, no entanto, de uma conjuntura global mais favorável. Se as guerras e tensões geopolíticas cessassem, o impacto positivo poderia ser imediato, especialmente no custo dos transportes e nos fluxos comerciais. Neste sentido, um mercado global pacificado e uma política agrícola europeia mais inclusiva para os produtores do Sul Global poderiam contribuir para preços mais justos e sustentáveis.
Os consumidores portugueses devem manter-se informados e acompanhar de perto a evolução dos preços, aproveitando as informações disponibilizadas por entidades como a DECO PROteste. Embora o panorama atual não seja dos piores, as incertezas geopolíticas e as pressões inflacionárias globais exigem uma atenção redobrada aos gastos com bens essenciais.
A diversificação de fornecedores e a aposta em produtos locais, sempre que possível, também são estratégias que podem ajudar a manter o orçamento doméstico equilibrado. Assim, apesar das flutuações, a chave para os consumidores está em adotar um comportamento de consumo mais consciente e ajustado à realidade atual.