26 Setembro, 2023

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O desabafo justo de William Tonet face ao escândalo do 27.05.1977

PORRA! PORRA! PORRA! É demais! É muita humilhação! “Já tínhamos algumas suspeitas de que alguma coisa não estava bem”, assegurou Duarte Nuno Vieira, médico legista da Universidade de Coimbra e ex presidente do Instituto Nacional de Medicina Legal de Portugal, acrescentando: “primeiro os resultados do ADN saíram muito rapidamente, o que fez pensar em ossos mais recentes do que corpos com 40 anos como era suposto. Depois, as características dos esqueletos também sugeriam que eram recentes. Temos a certeza que os corpos não pertencem aos que eram esperados. Esta é uma certeza científica”, assegurou o especialista.
Por William Tonet

MALDADE! SACANAGEM! MASOQUISMO! Melhor, foi a maior ofensa à memória das vítimas e sobreviventes, bem como a mais abjecta falsidade óssea. “Lamentavelmente não há nenhuma coincidência com o ADN das famílias em causa”, confirmou o professor catedrático e um dos maiores peritos forenses mundiais, que liderou a equipa a pedido das famílias.

E agora, MPLA, CIVICOP, Francisco Queiroz, João Lourenço, o que têm a dizer ao país, sobre mais esta macabra e dolosa encenação?

Na primeira pessoa do singular, quando foi criada a dita CIVICOP (Comissão de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos), coordenada pelo então ministro da Justiça e Direitos (des)Humanos, Francisco Queiroz afirmei, publicamente, que: VÍBORA NÃO VIRA MINHOCA!

Não deram ouvidos e, eis que, antes mesmo da esquina do vento, emergiu, mais uma vez, a lógica vampiresca de um regime que só sabe mostrar autoridade e impor-se aos demais com a força das baionetas, bombas e muita mentira…

Infelizmente, muitos dos sobreviventes e vítimas, ainda cultivamos a mesma ingenuidade que nos levou, em 1977, para os cadafalsos assassinos da polícia política de Agostinho Neto, por acreditarmos que este nada sabia, quando era (foi) o grande ARQUITECTO DA MORTE, como médico profundamente assassino, tal como o foi, em Paris, Joseph-Ignace Guillotin, médico francês que propôs, em 10 de Outubro de 1789, o uso de um dispositivo mecânico: a guilhotina, para realizar as penas de morte na França.

Agostinho Neto foi PROFUNDAMENTE ASSASSINO, ao afirmar publicamente, em Maio de 1977: “Não vamos perder tempo com julgamentos”! Foi o grande mote para a carnificina, que dizimou 80 mil cidadãos inocentes, sem direito ao contraditório, ao justo processo legal e a defesa, agravado pelo facto de que a Lei Constitucional de 1975 do MPLA, imposta e adoptada pela República Popular de Angola, não previa a PENA DE MORTE.

Estamos perante um crime imprescritível e insusceptível de amnistia, que um dia os seus autores serão, tal como os assassinos do nazismo e demais ditaduras, levados aos bancos dos tribunais.

A reparação e indemnização é outra das responsabilidades do Estado, inerente a estes tipos de crimes, pelos prejuízos causados às vítimas.

A vontade de reconciliação e reconhecimento do MAL, praticado por Agostinho Neto, sua polícia política: DISA & pares, em 1977/8/9, nunca foi, ao longo dos anos, genuína, pelo contrário, sempre teve artifícios para branquear os assassinos da ditadura, evocando, paralelamente, uma alegada e falsa acção musculada das vítimas e sobreviventes, muitos levados, compulsiva e selvaticamente, a trafegar as fedorentas masmorras do regime.

Infelizmente, para os masoquistas, nunca conseguiram mostrar, a perfuração de uma bala disparada contra uma instituição pública ou privada; uma companhia militar a movimentar-se em direcção ao palácio ou outro órgão de soberania; provar a entrada forçada na Rádio Nacional de Angola, nem o que é usual em golpes de Estado ou tentativa, uma declaração dos golpistas, para mobilizar os cidadãos. NUNCA! Sabem porquê? Porque o golpe foi uma invenção de Agostinho Neto e pares, para eliminar a melhor inteligentsia autóctone que Angola pariu, com conhecimentos técnico -científicos e políticos, com condições para emprestar um rumo, mais civilizado ao jovem país, que a maioria dos guerrilheiros, habituados a gerir cabanas de pau a pique e, mal, não tinham…

A transformação do país, numa grande sanzala, sem regras, é a prova mais acabada da congénita incompetência partidocrata.

Quando se introduziu, no léxico político, 44 anos depois (1977-2021), a retórica de perdão, pela forma, pouco ousada e sincera, não se vislumbrava, no meio rosto (o restante coberto pela máscara), plena convicção.

“Não é hora de nos apontarmos o dedo procurando os culpados. Importa que cada um assuma as suas responsabilidades na parte que lhe cabe. É assim que, imbuídos deste espírito, viemos junto das vítimas dos conflitos e dos angolanos em geral pedir humildemente, em nome do Estado angolano, as nossas desculpas públicas pelo grande mal que foram as execuções sumárias naquela altura e naquelas circunstâncias”, afirmou o líder do MPLA, partido responsável por um dos maiores genocídios, depois da II Guerra Mundial, com uma cifra a rondar os 80.000 assassinados.

Palavras! Simples palavras. Foram, sim, pois denotam, hoje, mais do que ontem, não só o vírus da petulância ideológica, como a unanimidade no interior do MPLA, ao pensamento único e aversão a VERDADE, RECONHECIMENTO DOS ERROS E A DEMOCRACIA.

E, na mesma senda prosseguiu: “Este pedido público de desculpas e de perdão não se resume a simples palavras, ele reflecte o nosso sincero arrependimento e vontade de pôr fim à angústia que ao longo destes anos as famílias carregam consigo por falta de informação sobre o destino dado aos seus ente-queridos”, palavras de João Lourenço, cumulativamente, presidente do MPLA e da República, no 26 de Maio de 2021.

Naquela altura, não assumindo uma condenação explícita, contra os torturadores e assassinos, o Presidente da República, João Lourenço, pouco inovou, pois, mais uma vez, tratou de blindar os algozes, com a estapafúrdia justificativa de que as vítimas, também se teriam excedido…

Provas? Inexistem, porque o MPLA é PhD em transformar mentiras em verdade. Na maioria das vezes, não consegue, mas não deixa de convencer, ao longo dos anos, incautos e todos quantos acreditam ser o melhor partido do mundo, reconhecendo terem, estes crentes, o cérebro ligado ao intestino grosso…

É preciso e urgente um verdadeiro e honesto comprometimento, em prol da verdade histórica para se desbravar as inúmeras e crónicas desconfianças embrulhadas em décadas de recalcamento entre as partes.

O império da arrogância não estava, em 2021, nem está, em 2023, preparado para descer as escadas da humildade, estendendo o grande tapete verde, para vítimas e algozes se ouvirem, numa jornada de penitência, para olho nos olhos, poderem rememorar o passado tenebroso, expulsar as mágoas, lançando os caboucos, primeiro para a conciliação e, depois a verdadeira reconciliação…

Com a contínua lógica de supremacia, dos ditos vencedores, nunca se chegará a outra margem.

Os incautos e ingénuos que acreditaram, que depois do 26 de Maio de 2021 tinha-se atravessado o Cabo das Tormentas e inaugurado uma nova aurora, decepcionaram-se. Reconhecem, agora o engano e a frustração, por terem condenado as interrogações, que já à época, conhecendo o outro lado faziam.

Eu sempre desconfiei da eficácia de qualquer comissão, para tratar de assunto tão sensível, como a CHACINA DE MAIO 77, onde quem, em nome do Estado, assassinou a quer dirigir, ditando todas as regras de jogo, acantonando as vítimas a um papel secundário de submissão total.

O MPLA, com o início da derrocada da pseudo campanha dos crimes contra a corrupção, precisava de jogar outra cartada e, aproximando-se as eleições de Agosto de 2022, decidiu tirar da cartola a tese do perdão e entrega dos corpos às famílias (26.05.21). Aplausos e cepticismo, cobriu os dois campos.

A porca começou a torcer o rabo, quando o regime e Francisco Queiroz rejeitou negociar com os verdadeiros sobreviventes do 27 de Maio, integrando uma pseudo fundação, cujos líderes nada têm a ver com os ideais de liberdade das vítimas, pois faziam parte de um órgão de repressão: Polícia Judiciária, em 1977, logo eram a continuidade do regime.

Assim, de tentativa em tentativa, até a tentativa final, a ditadura do MPLA mostra, com a premeditada e dolosa falsificação das ossadas, a verdadeira veia vampiro-dantesca e o seu forte e blindado compromisso com a MENTIRA!

É hora de se abrirem processos judiciais em Portugal, França daqueles que tinham dupla nacionalidade, no sentido de a lógica da sacanagem não perpetuar contra a honorabilidade e inocência das vítimas.

Os tribunais internacionais, com o acervo documental, oral e outros, em nossa posse, parece ser o caminho, para se levar a barra os assassinos e iniciar-se a reparação das vítimas .