Conservação de bivalves

Um estudo liderado pela Escola de Ciências da Universidade do Minho identificou áreas-chave na Península Ibérica para, até ao fim do século, conseguir a conservação de seis espécies de bivalves de água doce em risco e de 29 espécies de peixes dos quais dependem para sobreviver.

A interação entre espécies é prioritária nas políticas de conservação, segundo o artigo coordenado por Janine da Silva e publicado na respeitada revista científica Global Change Biology.

O trabalho estudou o impato das alterações climáticas e das barreiras artificiais (como barragens e açudes) no contexto ibérico.

Prevê-se que até final do século haverá entre 173 e 357 barreiras artificiais a bloquear o movimento e a interação das espécies estudadas e a sua procura de condições para sobreviver.

Os investigadores defendem por isso algumas áreas a considerar nas estratégias nacionais e europeias de proteção da biodiversidade.

Janine da Silva investigou o tema na sua tese de doutoramento em Biologia Molecular e Ambiental, no Centro de Biologia Molecular e Ambiental da Universidade do Minho, com ainda cientistas das universidades de Lisboa, Porto, Sevilha e Navarra.

“O nosso estudo abre perspetivas para a conservação de bivalves e peixes de água doce ibéricos”, afirma.

E aqueles bivalves utilizam algumas espécies de peixes como hospedeiros, nomeadamente para se reproduzirem. “É urgente garantir rotas de dispersão para rios e ribeiras com condições climáticas e ecológicas adequadas que assegurem a persistência das espécies nas próximas décadas”, sublinha o professor Ronaldo Sousa, orientador daquela tese doutoral e coautor do artigo científico.

As alterações climáticas entretanto estao a prejudicar a existência de habitats adequados para a sobrevivência de muitas espécies, bem como a existência de áreas que possam ser colonizadas no futuro.

Os peixes que transportam bivalves acabam por ser bloqueados pelas barreiras criadas pelo ser humano, o que pode levar à extinção de espécies. “É preciso investir na remoção destas barreiras ou, em alternativa, na translocação de espécies em risco para os locais adequados, a montante daquelas infraestruturas”, nota Janine da Silva.

O redimensionamento das áreas protegidas para adequar aos ecossistemas de água doce foi outra necessidade identificada pelos cientistas.

Joffre Justino

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Foto de destaque: IA;  ilustração que capta a essência do artigo, destacando a interação entre bivalves e peixes na Península Ibérica, e as ameaças que enfrentam devido a barreiras artificiais e alterações climáticas.