"Estava deitado no chão, banhado no meu próprio sangue, sentindo uma solidão extrema", Rushdie revela, partilhando um momento de clareza ensurdecedora. Longe dos seus amados, imerso em uma poça de sangue em uma terra estrangeira, ele contemplou a iminência da morte rodeado de rostos desconhecidos. Não era o medo ou a dor que dominavam seus pensamentos, mas uma solidão que, segundo ele, "sentia-se pior do que a morte".
O ataque não só deixou marcas físicas – cegueira de um olho, uso limitado de uma mão devido a danos nos nervos – mas também cicatrizes emocionais profundas.
Quase um ano após o incidente, Rushdie confessa que ainda está processando as emoções daquela manhã. "Tenho um terapeuta muito bom que tem muito trabalho a fazer", disse o romancista à BBC, indicando a extensão do trauma psicológico com que ainda luta, manifestado em "sonhos loucos" que frequentemente perturbam suas noites.
O agressor, rapidamente detido e julgado, declarou-se culpado das acusações, mas o ato em si permanece como um eco sombrio do fanatismo que Rushdie enfrentou décadas atrás. Enquanto se debate com a decisão de enfrentar seu agressor em tribunal e a incerteza de voltar a participar em eventos públicos, Rushdie reflete sobre a resiliência humana. "O corpo humano tem uma capacidade incrível de cura", observa ele, mantendo um tom de esperança e determinação.
Sir Salman Rushdie, que já explorou diversas facetas da condição humana através das suas obras, agora encontra-se numa jornada de auto-reconstrução e introspecção. Seu relato não é apenas um testemunho da fragilidade humana, mas também da fortaleza do espírito.
Num mundo onde o fanatismo ainda lança sombras longas e perigosas, a história de Rushdie ressoa como um lembrete doloroso, mas necessário, da luta constante pela liberdade de expressão e pela dignidade humana.