Ventura, um habilidoso artista da palavra, domina a arte de falar muito e dizer pouco com uma maestria que faria qualquer político veterano corar de inveja. Nos seus discursos fervorosos, promete o sol, a lua e as estrelas, enquanto cavalga num unicórnio chamado "Impossível", galopando por um campo de sonhos utópicos e pesadelos burocráticos.
No universo alternativo de Ventura, cada promessa é uma peça de ficção, cada compromisso, um episódio de uma série de televisão que todos sabemos nunca irá passar da primeira temporada.
O seu repertório, embora impressionante, está repleto de clássicos do populismo: menos impostos para todos (excepto, talvez, para os unicórnios), mais segurança (através de medidas que desafiam as leis da física e do bom senso), e um Portugal renascido das cinzas como uma fénix económica, livre de qualquer lógica financeira ou fiscal.
O mais fascinante, no entanto, é a sua capacidade de manter uma cara séria enquanto promete revolucionar o país com ideias que desafiariam até os roteiristas de ficção científica mais criativos.
Com um pé na realidade e outro num trampolim para o absurdo, Ventura segue, impávido e sereno, desfiando um novelo de promessas tão entrelaçadas que mais parecem um argumento para o próximo best-seller de aventuras fantásticas.
Ao fim e ao cabo, André Ventura emerge como um Dom Quixote dos tempos modernos, lutando contra moinhos de vento com uma lança emprestada da retórica inflamada e um escudo forjado no calor do populismo.
A sua jornada, pontuada por monólogos dignos de um óscar da sátira, o AVentura continua a entreter, a exasperar e, paradoxalmente, a cativar. Ah, Ventura, que seria de nós sem a tua verborreia encantadora e teus devaneios quixotescos? Provavelmente estaríamos menos divertidos, isso é certo.