Numa manhã iluminada pela vivacidade do pensamento crítico, o Editor do Jornal Estrategizando senta-se à mesa com Joffre Justino, diretor do Estrategizando e renomado ativista social e político.

A conversa que se desenrola é um mergulho profundo nas águas por vezes turvas do comunismo moderno, internacionalismo e a evolução política necessária numa sociedade globalizada.

Com a maestria de um grande pensador, Justino desfia os nós de conceitos muitas vezes mal interpretados ou esquecidos pela política contemporânea.

Editor: Joffre, frequentemente discutimos a posição do comunismo no contexto global actual. Como vê a interação entre comunismo e internacionalismo na prática política actual?

Joffre Justino: É essencial relembrar que o comunismo, por sua natureza, defende um internacionalismo radical. Isto é, a solidariedade entre trabalhadores além das fronteiras. No entanto, observamos uma certa retração para posturas nacionalistas, que contradizem diretamente esse fundamento.
Ser internacionalista é, antes de tudo, ser um patriota que compreende a sua pátria como parte de um todo maior, não isolada ou em oposição a outras.

Editor: Então, na sua visão, o comunismo deveria adaptar-se às novas realidades económicas, como a globalização?

Joffre Justino: Exactamente. Marx já nos dizia que as "relações de produção evoluem com a evolução das forças produtivas". Hoje, vemos a economia transnacional como um palco inevitável. Lutar contra a globalização económica é como tentar segurar o vento. Devemos, em vez disso, lutar por um sistema global que seja equitativo e justo, aproveitando as estruturas supranacionais para promover a solidariedade entre os povos.

Editor: Falando em estruturas supranacionais, como interpreta a posição do PCP e a sua aparente resistência à União Europeia?

Joffre Justino: O PCP parece preso a uma dialética ultrapassada, que não reconhece a União Europeia como um campo de luta transnacional. Em vez de se posicionar firmemente contra as tendências neoliberais da UE, poderia usar essa plataforma para promover reformas que beneficiem todos os trabalhadores europeus. A verdadeira batalha não é contra a existência da UE, mas contra as políticas que ela adopta.

Editor: E sobre a liderança na promoção da paz, qual seria o papel ideal para um partido comunista hoje?

Joffre Justino: Um partido comunista moderno deve ser a vanguarda na luta pela paz. Isso significa liderar debates, manifestações e colóquios que busquem soluções pacíficas e cooperativas para conflitos globais. O PCP, ao se isolar, perde a chance de ser essa voz líder, o que é uma falha grave na actualidade, onde conflitos como os da Ucrânia e do Oriente Médio exigem atenção urgente.

Editor: Num mundo onde o capitalismo é cada vez mais transnacional, qual é o maior desafio para o comunismo?

Joffre Justino: O maior desafio é renovar a sua mensagem e métodos. Não podemos ficar presos a modelos que foram eficazes no século XX mas que agora parecem obsoletos.

Precisamos de uma visão que integre a realidade da interdependência global e que utilize as ferramentas do século XXI para mobilizar e educar. Isso inclui entender as tecnologias digitais, as novas formas de comunicação e a economia política global como ferramentas de luta.

Conclusão Final

O encontro entre o Editor e Joffre Justino não apenas ilumina as complexidades enfrentadas pelo comunismo no século XXI, mas também reafirma a necessidade de um diálogo contínuo e de uma reavaliação constante dos princípios e práticas que definem o movimento. A discussão estabelece a base para uma série de diálogos futuros que o Jornal Estrategizando se compromete a realizar.
Com a iniciativa de cobrir as realidades de cada um dos partidos políticos no panorama nacional, abordaremos tanto aqueles com assento parlamentar quanto os demais partidos que, embora não representados no parlamento, têm vozes e perspectivas que merecem ser exploradas e discutidas.

Essa cobertura diária buscará não apenas informar, mas também engajar os cidadãos numa compreensão mais profunda das várias forças políticas em atuação em Portugal.
Ao reconhecer e abraçar as mudanças, o comunismo pode reemergir como uma força vital para o progresso social global, alinhando a sua rica história com as demandas de um mundo em constante evolução.

O nosso objetivo é garantir que todas as perspetivas sejam ouvidas, proporcionando uma visão equilibrada e abrangente do espectro político nacional. Este esforço não é apenas essencial para o enriquecimento do debate público, mas fundamental para a saúde da nossa democracia.

O diálogo termina, mas a discussão está longe de acabar, cada palavra trocada ressoando como um apelo à ação para todos aqueles envolvidos na luta por um mundo mais equitativoe fraterno.